quarta-feira, maio 31, 2006

A política - As Legislativas de 26.Março.2006, os vencedores (II)





(continuação)
Agora, a análise factual, repito, simples análise.

1 - A ADI, segundo se sabe, exigiu, para começar a negociar uma eventual entrada no governo – para tornar possível a constituição de uma maioria absoluta - , que o 1º ministro fosse indicado por si e que não houvesse qualquer acordo quanto a pré-designação de uma candidatura presidencial única, escandaloso e arrogante, exclamou-se em STeP e na diáspora (detesto a palavra, adoro o conceito); bem proposto, penso eu. Desse modo, a sua direcção deixou claro que não tinha, nem tem, qualquer interesse em arriscar uma ida para um governo já, apostando tudo em ganhar, o que houver para ganhar, depois.

Na minha perspectiva, em política, a paciência pode ser, definitivamente, uma boa conselheira, o que não sei é se a estratégia da ADI resulta de uma análise racional da realidade política actual, ou se se trata de mero amuo entre personalidades, com sede de se posicionar, para um acerto de contas à curto prazo.

De qualquer forma, seja qual for a motivação do Patrice Trovoada, não vejo que o seu objectivo possa vir a ser realizável com sucesso se a muito curto prazo não souber recuperar alguns activos humanos perdidos estupidamente pelo seu partido e se não souber actuar com vigor e sedução em relação aos muitos anticorpos que foi criando na sociedade santomense. A ADI não crescerá no futuro se continuar a ser uma força política de simpatias e laços, se não souber redimensionar a sua base de apoio e se não souber ser um partido aberto e com ideias, é que em política está tudo inventado, mesmo em STeP.

Mais agora, quando, pelas circunstâncias, a realidade política santomense parece querer propor uma bipolarização. Por pragmatismo, deverá caber à ADI contra-propor uma tripolarização, se quiser crescer, não tem outra opção.

Se se está na oposição, e não se tem uma profunda base popular, não é suficiente ter-se capacidade financeira – por regra, nunca se terá mais do que o partido no governo - para fazer um bom percurso até as seguintes eleições; é preciso estar todos os dias em campanha para passar a mensagem, é bom que ela exista; é preciso insistir no apontar de caminhos; é preciso fazer crer que se é alternativa; é preciso explicar como se faria se estivesse no governo e, finalmente, é preciso ter rostos (e não um rosto) que assumam a estratégia. E a ADI não tem nada disso, hoje, é um partido esvaziado e vazio. O que até pode ser uma vantagem, claro está, caso o seu líder seja capaz de encher o partido de conteúdo, e aí, talvez a estratégia de vir a ser um vencedor depois possa ter possibilidades, mas, honestamente, tenho sérias dúvidas que isso venha a acontecer, temo que Patrice Trovoada nunca entenderá que a aproximação aos activos humanos perdidos e a abordagem aos anticorpos criados não terá necessariamente que ser feita por ele, aliás, nunca poderá ser feita por ele, tem que ser feita por um mediador, um player, uma figura distante do actual meio político santomense, com capacidade negocial e de dialogo, com carisma e curriculum, com credibilidade interna e externa, alguém que signifique novidade e que consiga surpreender.

Patrice Trovoada, até agora, deu mostras de ser esperto muitas vezes - e espertalhão outras vezes - , chegou a hora de mostrar também inteligência, para isso, saberá ou deverá saber que o perfil de mediador que acabei de descrever, e de que o seu partido necessitará para crescer e ser um vencedor depois, existe de facto e não está assim tão longe e distante dele, do líder da ADI.

2 – O PCD governa e a tendência é para governar mais. É obrigatório não esquecer que estamos perante um partido que, há muito pouco tempo, estava condenado a desaparecer. Sem muitos históricos, eu os consideraria histriónicos; sem futuro, eu diria sem um duro; sem nada, eu, vernaculamente, diria que quando governaram só fizeram «cagada», aí está. Enfim, passou de ser um partido simpático e com uma muita boa base de apoio, a ser um partido desconsiderado e mal visto, uma espécie de Michael Jackson da política santomense.

No entanto, aí está, no governo e pleno de influência. Como é que isso foi possível? Muito fácil de perceber: são eles que estão a propor a bipolarização ou a tripolarização à realidade política santomense. Não sei se resulta de uma estratégia ou se resulta do instinto de sobrevivência, mas, de facto, o PCD, não sendo um partido personalista, como são todos os outros partidos santomenses, consegue mover-se melhor entre interesses, sem que a sua posição se torne obviamente incomoda, pois, não está vinculado a um centro, mas à uma miríade de centros, que podem flutuar e que o equilibram, livrando as suas diversas figuras de desgastes pessoais centrifugadores.

E é nessa sua característica, de único partido verdadeiramente centrista (centro social e não ideológico, porque este não existe em STeP) santomense, que se tem «agarrado» para liderar o que me parece fundamental na política do país: politizar a política, marcar a agenda, tornando o debate sério, resumindo, polarizar. É fundamental polarizar para tornar as propostas políticas distintas e diferenciáveis, permitindo, assim e finalmente, que se faça política em STeP sem a habitual cortina de ruído que só serve para ocultar a falta de ideias, de pensamento, de competência e de elegância.

Há tempos, quando foi anunciada a coligação do PCD com o MDFM intui que a conjuntura política de STeP mudaria substancialmente, e não me enganei. Na altura, viu-se com maus olhos essa aproximação, que, para muitos, foi entendida, e continua a ser mal entendida, como mera caça ao dinheiro para sobreviver de uma parte do PCD. Agora, já se sabe que é mais do que isso, foi uma estratégia de poder.

Na minha visão minimalista da política, achei bem que os dois partidos se unissem, é sempre um partido menos, e vou antecipando, o que ainda não aconteceu, mas que vai acontecer, à muito curto prazo, a fusão dos dois, talvez sob a sigla Convergência para Mudança Democrática. E não tenho grandes dúvidas que o principal promotor dessa iniciativa será o PCD. Não é um mero wishful thinking, parece-me mais uma inevitabilidade, porque o eleitorado já não os distingue, porque os interesses já se confundem e porque, enquanto governo, quererão manter-se no poder, logo, a aproximação, dependendo da performance na governação (apesar de ser um governo fraco e bastante previsível, mesmo assim só poderá fazer melhor do que os anteriores, por impossível), converter-se-á forçosamente numa união. Veremos, em definitivo, se realmente existe pensamento estratégico no PCD, se houver, forçarão a união e fusão. Antes, porém, vão ter de pensar em fazer algumas coisas, fundamentalmente, em arrumar a casa para crescer e ser hegemónico no futuro partido.

O PCD tem a vantagem de ter deixado fora do governo muita da sua gente válida, pelo que, estes deverão fazer o «trabalho limpo» no partido, que consistirá, em criar, imediatamente, um think tank, constituído pelos seus quadros e independentes, para dar consistência técnica e ideológica as propostas e para reforçar e rejuvenescer a sua base de apoio e a base de apoio do governo. De momento, só tem que fazer isso, nada mais, se quiserem ser vencedores depois. A ver se são capazes.

Abílio Neto



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