sexta-feira, maio 12, 2006

A música - No Sign of Bad, Djosos Krost





Não tenho grande simpatia nem pela estética, nem pela ideologia rasta. Aliás, não gosto de rastas, é um complexo meu, muito antigo, vem dos tempos em que pensava melhor com a libido, que não é um órgão, do que com a cabeça sem tranças, mas bem limpa, pelo menos, de aspecto.

Naqueles tempos, não havia miúda que não gostasse de dreadlocks, «apetece fazer festinhas!», diziam quase sempre, «e que tal fazer festinhas num esfregão da Bravo!». Os rasta eram a maior concorrência, daí eu não gostar deles. Fartei-me de ouvir: «porque é que tu não fases aquilo… também?» Mas como é que eu podia fazer «aquilo», se nunca gostei de ter cabelo sequer, bem, excepto naquele período Cameo, Larry Blackmon, cujas fotografias estão todas oportunamente desaparecidas. Foram outros tempos.

Em homenagem ao 25º aniversário da morte de Bob Marley, 11.05.1981, resolvo escrever sobre o último álbum reggae, fundamentalmente reggae, mas muito dub, que comprei e tenho estado a ouvir com imenso gosto. As últimas coisas que comprei foram do Gregory Isaac, ainda em vinil, e não se pode considerar bem reggae, porque falta-lhe a cultura rasta e aquelas tretas de pacifismo e de terceiro-mundismo, é mais love rockers, mais agradável, melódico (muito mesmo) e pertinente.

A banda é dinamarquesa, o que me fez pensar no Thomas Han, um amigo dinamarquês doido pelo rewind and selecta, que me deu a conhecer muito de toaster, roots reggae e dub e que me gravou a melhor cassete de toasting, uma sessão sua, que ainda tenho lá em casa. (E também «deixou-me», porque ficou comigo, o melhor álbum de Jorge Ben, que conservo). Obrigado Thomas, gostava de voltar a ver-te, nesses dias em que a Dinamarca não vai ao Mundial de Futebol e em que já ninguém diz que tem amigos dinamarqueses, pois, eu tenho e digo.

O que me agrada nos Djosos Krost é que usam bem toda a estética reggae (dub, incluído) e até vão ao extremo ideológico de serem rasta, especialmente, nas letras das canções, não caindo no habitual choradinho de ataques estéreis ao capitalismo, em nome da Babilónia e outros despropósitos. Apostam no bom gosto.

I give love, I take love,
I need peace, what will come to me,
I don’t wanna be part of this craziness, crazy world,
Call it off,
What we need is,
No more war, no more killings.

Call it off, No Sign of Bad, Djosos Krost

Nos dias que correm, ninguém acredita nisso, mas convenhamos, bolas!, é lindo. O refrão deixa-nos felizes, faz-nos rirb - sem fumos e charutos estranhos - , até nos convida a abrir uma garrafa de Rosé ou uma de Sirah. Tenho ouvido e re-ouvido, com muito gosto; tem-me feito sonhar acordado, o que já não fazia há algum tempo.


Abílio Neto

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