sexta-feira, outubro 19, 2007

A Fórmula 1 - Eu, Lewis Hamilton e a Canção




O único piloto de F1 que disse ter What’s Going On? de Marvin Gaye como uma das canções da sua vida, foi o Lewis Hamilton. Logo, é ele que deve ser o vencedor do campeonato.

Ouvi e vi o programa do MTV Base em que Hamilton, ao estilo Takeover do MTV 2, em que os convidados dizem quais são as canções da sua vida, indicou Marvin Gaye como uma referência absoluta, porque o pai ouvia e ouve muitas vezes lá em casa. E gosta de guiar a ouvir What's Going On?. Não posso ficar insensível esse manifesto de bom gosto.

Portanto, sendo assim, não tenho outro remédio, se não aparecerem até amanhã, às 14:00, o Fernando Alonso ou o Raikkonen a dizerem que My Way (Frank Sinatra) ou Corcovado ( Miúcha ou João Gilberto) ou fazem parte das suas 10 canções favoritas, não vou perder tempo em dizer quem eu quero que ganhe.


Abílio Neto

Eu - E o elementar Dr. Watson




Acordei hoje cheio de sono, até ter ouvido a notícia na Antena 1, quando vinha trabalhar, aí pelas 07:16, um cientista, um Prémio Nobel, James Watson, em entrevista ao Sunday Times declarou que a intelegência dos africanos - «deles», segundo o Dr. - não é igual a dos outros homens - «nossa», ainda segundo ele -, é inferior.

Despertei logo.

Mas, é melhor citar o que ele disse, de acordo com o Sunday Times:

«Todas as nossas políticas são baseadas no fato de que a inteligência deles é a mesma que a nossa, quando todos os testes dizem que, na verdade, não é»;

«Watson ainda disse que esperava que todas as pessoas fossem iguais, mas que "Aqueles que têm de lidar com empregados negros não acham que isto seja verdade"».

A 1ª coisa que fiz ao chegar ao escritório foi pedir a minha demissão a administração da minha empresa, e justifiquei, sentia-me «pouco inteligente», por ser inferior, eu cá não quero nem faço favores, acho que, justamente, tenho valor para, bem enquadrado, enquanto sou jovem, trabalhar para ser Prémio Nobel de Medicina ou algo parecido, no minimo, se a lucidez e a ciência me deixarem!


Abílio Neto

terça-feira, outubro 16, 2007

O desentendimento - O Al Gore, o Nobel e ainda Bill Clinton





Não percebo o Nobel ao Al Gore. Se votasse - ainda bem que não, já se preceberá a razão -, se fosse deputado sueco, não lhe daria o meu voto.

Se votasse, como dizia, não daria o meu voto ao Al Gore, por 2 razões, mais do que suficientes, para não gostar política e pessoalmente dele:

- Foi cobarde no caso Bill Clinton Monica Lewisnky, não se expôs, resguardou-se, quando devia ter feito exactamente o contrário, o eleitorado não é parvo e percebeu que não havia «Homem»;

- Foi cobarde na fase final das eleições de 2000, quando não soube «bater os pés», não soube reagir com a contudência e sujidade necessárias - recusou a proposta da One Million March, preferiu ficar em casa com a família a espera -, à orquestração bem montada pelos Bush na Florida, uma vez mais a opinião pública percebeu e deixou que ele perdesse as eleições.

Um homem assim, que não sabe ser leal, quando a história lhe pede, nem ordinário e sujo, quando a história também lhe pede, insisto, um homem assim não pode ser Presidente de nada, nem pode ser merecedor de um Nobel da Paz.

Se pensarmos retroactivamente, Al Gore foi o principal responsável pelo fiasco da Guerra do Iraque, uma guerra inevitável, fui e sou a favor, mas que podia ter sido feita de outra forma, exactamente, da forma como Bill Clinton a vinha anunciando, por desgaste e por envolvimento da ONU e do Mundo Arabe.

Não vi o documentário do Al Gore, vou ver o do Leonardo DiCaprio, não vou comprar o seu livro The Assault on Reason, já comprei o de George Monbiot, Calor.

Não é agora que Gore tem que se posicionar, quando a história lhe pediu, não o fez, portanto, o seu encontro com o mundo, por muito que Hollywood queira, deve e tem de ficar adiado, sine die, e até com barbas.

Abílio Neto


segunda-feira, outubro 15, 2007

A música - The Strokes, First Impressions of Earth





Dos grandes albuns rock, de 2000 até 2007, o First Impressions of Earth tem de estar nos 5 1ºs.

Isto à propósito de uma pergunta que o Paulo Barata me fez, um dia destes, por telefone: «Tens ouvido rock? Que rock...?».

Mas como é que eu posso deixar de ouvir rock, sobretudo, o alternativo, como ainda lhe gosto de chamar, e, sobretudo, o que vem de NY ou de qualquer cidade inglesa de província ou da Austrália ou doutro lado qualquer, desde que inteligente?! Não posso.

The Strokes são a banda rock mais cosmopolita da actualidade e criam habituação, boa habituação.

Hype? Qual quê, são newyorkers famosos e fashionistas com talento, claro!, isso nunca foi propriamente o melhor cartão de visita nem o melhor CV para a crítica, e há ainda o facto de este ser um album que devia representar o esgotar do talento, pois, não foi!

E tanto não foi, que escreveram e criaram das melhores canções rock, ever, You Only Live Once, The Strokes (ainda gosto de pôr o «the» antes dos nomes das bandas, deve-se notar a origem do mau hábito):

Oooooh
Some people think they're always right
Others are quiet and uptight
Others they seem so very nice nice nice nice nice oh oh
Inside they might feel sad and wrong

O que me agrada nesta canção é ela não ter sido feita para ser ouvida em ambientes depressivos - o que acontece normalmente com as grandes canções rock -, está feita para a excitação, é tão optimista, tão grandiliquente na defesa de modos alternativos de viver, que me custa ouvi-la em Portugal ou neste mundo. Mas, jovialmente, continuo a ouvi-la até a exaustão. Que um objecto cultural consiga rejuvenescer, por refrescante, isso diz tudo sobre a sua qualidade.

Oh no 29 different attributes
And only 7 that you like, uh oh
20 ways to see the world, oh oh
Or 20 ways to start a fight
Oh, don't, don't, don't
Get up
I can't see the sunshine
I'll be waiting for you baby
'Cause I'm through
Sit me down
Shut me up
I'll calm down
And I'll get along with you

Se isto não é genial, não conheço um único objecto cultural que o seja.


Abílio Neto

terça-feira, setembro 25, 2007

O Dalai Lama - E a minha amiga que cheirava a açafrão



O mais próximo que estive de Buda foi:
1 - Quando li «O Buda dos Suburbios» de Hanif Kureishi;

2 - Quando ouvi a colectânea Buddha Bar II (dinner mais party);

3 - Quando vi «O Pequeno Buda» de Bernardo Bertolucci;

4 - E, finalmente, enquanto tive uma amiga, que ainda hoje não sei se era budista, dizem-me que sim, que comia arroz integral, bebia chá, sentava-se no chão, andava descalça e cheirava a açafrão, que me lembre.

Isso tudo para dizer que a única coisa que consegui reter da recente visita do Dalai a Portugal foram as imagens das pessoas que andavam a volta do homem, resplandecente e estranhamente sorridentes - fiquei a saber que não posso ser budista -, e ficou-me também esta frase:

"Promover encontros, mesmo com Bin Laden, falar, ouvir quais as suas razões. Generalizar é injusto".

Bem, 1º, ocorreu-me que já tinha ouvido isto de algum lado e não de um budista; e, 2º, lembrei-me de uma das frases predilectas da minha amiga que-ainda-hoje-não-sei-se-era-budista: «Abílio, tens de te dar com toda a gente...»!

Como, na altura, não fazia qualquer comentário a essa frase, que ela repetia até a exaustão e que eu exausto ou soberbo fui ignorando, hoje, alegre e cobardemente, sem saber onde ela está, acho-me capaz de o fazer, portanto respondo: «não tenho que me dar com toda gente, porque há gente que de maneira alguma se daria bem comigo, por isso, não quero que toda gente se dê bem comigo!».

E uma das pessoas com quem jamais me daria bem é o Bin Laden. Não vejo possível. Com um copo de Batuta ou de Thermantia na mão, não sabia o que lhe dizer e ele tão pouco saberia o que me dizer, e dar-me com uma pessoa com quem sou incapaz de comunicar com um copo de bom vinho na mão, nunca me aconteceu e não quero que me venha a acontecer. É assim comigo e parecer ser assim com os budistas, suponho que aqui, em vez do vinho, ponho a coisa ao contrário, é difícil darmo-nos bem com alguém que nos bata com um bastão por clamarmos pacificamente por liberdade, quando não temos nada na mão. A não ser que...

Hoje e ontem, em Myanmar - o país com o nome mais lindo do mundo e também com a Presidente-que-nunca-chegou-a-ser-15-anos-depois-de-ganhar-eleições-livres-e-democráticas mais linda do mundo, Aung San Suu Kyi - , parece-me, deve parecer a todos, que os budistas perceberam, finalmente, mesmo depois da China no Tibete, que há gente com quem não se deve dar, há gente com quem não se encontra e, simplesmente, há gente que não tem razão.

De qualquer forma, passou-me ao lado a recusa do governo português em receber o Dalai Lama.


Abílio Neto

quinta-feira, setembro 06, 2007

O super cronista - Francisco Umbral ( 1932 - 2007 )




(1932 - 2007 )

Tenho pena de não ter comprado a game-box do Sporting na época passada só para ter visto Nani; há quem comprava o Público – compro a sexta-feira, Y, para ler ao fim de semana e para aumentar a montanha de jornais não lidos que gosto de ter, não prescindo, os outros dias tenho o Público no emprego - só para ler o Eduardo Prado Coelho (EPC) e eu comprava o El Mundo para ler 1º a última página, onde estava a coluna Los Placeres y Los Dias de Francisco – Paco – Umbral (PU).

Há coisas e realidades que o timing certo nos obriga a comprar, o atrevimento cabo-verdiano de Nani, o Portugal inexistente de EPC, o Mundo espanhol, tenso e pós-moderno de PU e uma Levi’s Engineered, arrependo-me de não ter comprado o 1º e a última, porque o resto fui comprando e lendo.

As coisas no seu sítio, ou seja, o sea, como repetia até a exaustão PU, interessam aqui os colunistas que morreram na semana passada. De forma diferente, gostava dos dois, mas gostava muito mais do Paco Umbral, um dandy assumido, era mais personagem e personalidade, era mais de confrontos directos, era combativo, irónico sempre e mais antagónico que o Eduardo Prado Coelho que, para mim, era muito intermitente, excessivamente sério e sem sentido de humor, enfim, um português que gostava dos franceses, off topic, uma espécie de Pauleta intelectual, mas sem ser tão eficaz, foi marcando alguns golos para aplauso do bloquismo e do bloguismo, o sea, como diria o Sousa, do «bi-loquismo».

(A foto do Paço Umbral explica tudo e explica mais as diferenças entre os 2. Ainda estive tentado em pôr uma foto dos seus tempos de nudista nos anos 70 em Ibiza, mas, por diversa razão, pensei nas crianças e nos gays que são meus leitores!)

E as diferenças entre os 2 influi muito na forma como se prefere o estilo de um ou do outro.

O PU vem de uma esquerda radical, estética e liberal e anglo-saxónica e foi, com esse background, pela lógica evolutiva, aproximando-se do centro liberal, sublinho liberal, muito na onda de Pedro J. Ramirez e do diário El Mundo, que posicionando-se a direita, não tiveram problemas em ser contra a Guerra do Iraque e a favor do Casamento Entre Homossexuais, ilustrativo. O EPC é da esquerda da francofonia, a da Frente Popular e dos Existencialistas, os das boinas negras e óculos de aros redondos, daqui, não conseguiu ir mais longe do que até ao Bloco.

Outra coisa que os diferencia, o PU mais do que um cronista é um extraordinário romancista, diria, um romancista pós-moderno, pois, tenho como referência absoluta dessa corrente literária o Las Señoritas de Avignon (1995), obra que se inspira no Les Demoiselles d’Avignon (1907) de Pablo Picasso, transportando o que se vê nesse fabuloso quadro - 4 «senhoritas» enigmáticas, despidas, vestidas, com mascaras e sem, enquanto seres que parecem e podem ser para cada um de nós – para a realidade da Guerra Civil de Espanha. Descontrói completamente o quadro com o romance e faz nascer pequenas e deliciosas narrativas.

De Paco Umbral, ficará sempre isto e muito mais, com a licença do El Mundo:


LOS PLACERES Y LOS DIAS

El neomachismo
23/09/2006


Amaya Arzuaga le dice a Amilibia que el hombre y su moda, o sea la moda de hombre, tiene que moverse entre la austeridad y el machismo. Austero es Mariano Rajoy y machista era, mientras gobernó, don Manuel Fraga. En los pases de modelos, tan frecuentes y nutridos, vemos que, efectivamente, a los tíos no les queda la ropa modernosa porque les hace futbolistas con ropa interior de torero. Y tampoco les queda la moda hombre/hombre porque les hace machistas, según la citada Amaya Arzuaga. Entre unas cosas y otras, ocurre que los hombres no saben qué ponerse y siempre parecen viajantes de comercio, pero parados.


Uno cree que hay que aceptar las cosas como son. La mujer ha nacido para tía buena o tía exquisita, la mujer es un mueble decorativo al que sólo dan vida los modistos o la modista del barrio. El hombre queda muy funcionario de Hacienda se ponga como se ponga. La armonía, la belleza, el buen gusto, el buen talle y el buen detalle están de parte de la mujer, de la chica, de la yogurina o de la real hembra. Con todo eso los modistos, que son unos artistazos, mayormente mi admirado y querido amigo Pertegaz, hacen una categoría aparte que Camilo José Cela puso en este orden: el perro, la mujer y el caballo. Con este sistema métrico decimal o metrosexual nos hemos defendido toda la vida. La mujer se compraba un abrigo de visón o de rata (mucho más estilizado el de rata) cada temporada y el hombre no se compraba nada porque ya se encargaba ella de mandar darle la vuelta para usarlo un año más, que el que empieza tirando el dinero en trapos acaba amariconado.


Creo que me está saliendo un artículo bastante machista e incluso reaccionario, de modo que me pongo contento y satisfecho, pues hacía mucho que no me salía una cosa tan de derechas y tan machista.Los modelos fastuosos se inventan mayoritariamente para las mujeres, que son casi todas fastuosas de cuerpo y de abéñula. Pero últimamente, por no sé qué complejo del modisto o del cliente, se lanza también la moda masculina en los desfiles, donde vemos una especie de futbolistas con coleta que lucen de arietes del Getafe y enseñan las rodillas impresentables de los hombres, cosa que no se había enseñado nunca ni en las playas desnudistas de Ibiza. Me temo desde el principio que este amago de coquetería masculina no va a dar un duro ni un traje como el de Letizia el día que casó. Los hombres no sabemos coquetear en hombre y yo sólo he conocido tres elegantes en mi vida: Vilallonga, aunque me odie, César González-Ruano y Cary Grant en el cine.


Uno mismo hizo en su juventud algunos intentos de dandismo, pero lo dejé a tiempo. Mi proyecto fracasaba desde su juventud porque el dandismo no es joven ni viejo sino intemporal, siempre el mismo y tirando a austero, como aconsejaba El bello Brummel.Aquí me temo que falla Amaya Arzuaga, a la que conocí hace unos años y no sé si me interesó más como moda o como modelo. Amaya privilegiaba la juventud del hombre, pero la juventud sólo es un trámite y hay que resolverlo lo antes posible. La moda está de moda y aunque seas muy macho tienes que reunir un conjunto para el yate, otro para el golf, otro para el Senado, otro para el caballo y otro para la ópera. Y en este plan.



Abílio Neto

sexta-feira, agosto 24, 2007

Hot Chip - The Warning





Hot Chip.

Hype? Nada! A banda mais descomplexada e inteligente da terra, desde, porque não, Breakfast Club. Sem ter um único disco deles, fui vê-los ao vivo no Hype@Tejo, em Julho do ano passado. Rendi-me.

Eles são tipos normais, t-shirts e gangas, brancos, estranhamente minimais, o que lhes confere uma imagem clever e até erudita (popemente erudita). Grande show, canções pop (toda a boa pop imaginável) enormes e muito ritmo. Convenceram-me absolutamente. E também convenceram o pouco público que os via e ouvia, pela atenção que prestavam.

O resto do público do Festival esperava por Massive Attack - estes sim, tipos não normais, elegância extra-cuidada! - ou estava no armazem da Rádio Oxigénio a ouvir os Buraka Som Sistema, que tocavam em simultâneo com os HC, que em determinada altura, tiveram que pedir desculpas, porque não conseguiam ter o som de retorno! O programador merecia uma certificação por méritos da sua incopetência ou que a ASAE lhe retirasse a licença. É que eu também queria ouvir os BSS!

A melhor canção do ano 2006, (And I Was A) Boy From School:

And i was a boy from school

helplessly helping all the rules

and there was a boy at school

hopelessly wrestling all his fools

and there was a girl at school

blaming all the words she learnt from home

nothing would keep her a child

long hours don't give though

we try

we try but we didn't have long

we try but we don't belong

we try but we didn't have long

we try but we don't belong

Estas palavras simples, fazem-se acompanhar duma das mais belas melodias que alguma vez ouvi, tristeza, melancolia, passado, gozo, memória e alegria, ou se calhar mais coisas, definitivamente, a sensação de que na vida fica sempre muito por fazer, mesmo quando muito é feito.

Devo-te essa Sousa. Ajudado pelo entusiamo do Paulo Barata.
Abílio Neto

terça-feira, agosto 21, 2007

O futebol - E a vida





(Começaram os campeonatos e tive a Sport Tv grátis, aproveitando a troca de cartões, durante 8 dias! Obrigado. Fez-me bem passar o fim de semana a ver algum bom futebol e muito mau futebol, sobretudo.)

E o futebol voltou mais ideológico que nunca, as 1ªs palavras do Jaime Pacheco, logo no comentário ao 1º jogo da liga - diga-se, a sua eqipa não jogou absolutamente nada -, fariam corar de vergonha qualquer spin doctor neo-con, só por não se terem lembrado de a inventar:

«O Boavista voltou a jogar na sua habitual forma tradicional do passado...».

Enfim, começo a época citando o homem de «uma-faca-de-dois-legumes», como proposta futebolística, nada de novo, mas como mensagem, eficaz dentro da sua questionável lógica, por anologia, um pouco como Bush e os seus rapazes, que, agora, fogem do poder como o Boavista do Jaime foge do bom futebol.


Abílio Neto


quarta-feira, julho 11, 2007

A razão - O político, Tony Blair





Ninguém se lembra já, lá pelos anos 80 e início dos 90, da estranha relação da esquerda ocidental - sem desculpas, a outra esquerda não conta, porque recusou-se a contar, pois, há muito que resolveu descontextualizar-se - com o poder (com o governo, com o fazer ou o executar políticas, que é o que verdadeiramente interessa em política) antes de Bill Clinton e Tony Blair aparecerem, pois, eu recordo-me: má, malíssima!

(Pior que a relação dos Blur e os Oasis.)

Assente em velhos paradigmas e em velhas realidades, sem perceber o que o novo tempo lhe propunha, sem perceber que o Acid e o Jazz já se estavam juntando, a esquerda estava condenada a ganhar algumas eleições, às vezes, por uma legislatura, e e e... se, no entanto, não caísse na estupidez - e normalmente caía - de envolver-se num escândalo qualquer, e lá vinha crise e lá vinha a queda do governo e lá vinha a verdade, da altura, «a esquerda não sabe governar...», e não sabia e era verdade.

A esquerda não era consistente, não era competente, nem sabia o que fazer com o poder, sobretudo, em sociedades estruturadas a volta de uma classe média comoda com o mercado e as suas regras, que nem queria ouvir falar em «ideias» ou «esboços de ideias» que pudessem levar Paris a parecer-se com Gdansk, quanto mais com Havana.

Apesar do Tio Mitterand, que era tio e padrinho, e de alguma esquerda mais, a que era tradicional, caso nórdico, a que se limitava a gerir velhos ódios sociais contra a memória de uma direita autoritária, casos espanhol, grego e italiano, não havia outra esquerda que não fosse a residual e deprimida pró - Leste, irrelevante, que só não era do terceiro mundo porque os seus dirigentes eram loiros ou com cabelo branco e não andavam fardados e com uma pistola.

Blair fez-se neste quadro. Ideologicamente. Cultivou-se, relacionando-se com a esquerda liberal, a da London School of Economics (LSE) e a do Centre for Contemporary Cultural Studies (CCCS) University of Birmingham, interiorizou, dos 1ºs, que só pode haver redistribuição se houver uma economia forte e um estado frugal e bem gerido, e dos outros, que os media só aparentemente reflectem a realidade, ele servem melhor para construir a realidade e que articular é a forma de associar e que ‘pode’ estabelecer a unidade de dois elementos distintos sob determinadas condições, é uma relação que não é necessária, determinada, absoluta e essencial para todas as épocas.

E assim refez a esquerda. Criou com Clinton o Neo Centro Radical ou 3ª Via. Quando no poder.

Para mim, Blair é Acid Jazz, é a junção de muito improvável para criar maravilha.

O Iraque foi um pormenor para distraídos.

Obrigado, 1º Ministro, só o Sr., depois do que já fez, merecedor de um bom descanso, se disponibilizaria a ir aturar os Palestinianos, que já entre não se aturam.


Abílio Neto

terça-feira, junho 26, 2007

A figura - Rama Yade



14 de Janeiro de 2007. Congresso do UMP.

Ela subiu. Andar um pisco pesado, postura leve. Calças pretas e camisola de lã em V, às riscas, 3 cores, branco - cinza, cinzento – zinco e preto, talvez da Missoni, a camisola, digo, porque por baixo, trazia uma t-shirt base, simplesmente castanha - quase da cor da sua pele -, que bem podia ser da Zara.

Ela chegou ao palanque. Virou-se e levantou logo a cabeça para olhar de frente a sua plateia, lá no Congresso, e para olhar para mim, sentado no sofá da minha casa, «Deus, como é linda!», pensei logo, prestando vassalagem ao ecrã da TV 5. Negra no porte e na cor; olhar vivo, inteligente e descontraído; rasta limpa, presa atrás; e de testa aberta, definitivamente premonitória.

Ela discursou 12:55 minutos. Muita contudência, muita ideia e muita política, nada de desculpabilização ou de auto-justificação. Depois, terminou, arrumou os seus papéis e desceu do palanque, como subiu. Era o seu discurso de investidura para Nicolas Sarkozy.

Ela era Rama Yade, aliás, Ramatoulaye Yade-Zimet, negra, mulher, francesa do Senegal e muçulmana. É, hoje, a Secretária de Estado para a Francofonia e Assuntos Europeus do novo Governo francês, o II Fillon.

Ela ainda não me diz tudo, desconfio que me há-de dizer algo, quando souber melhor o que pensa.

Depois dela, entrou Nicolas Sarkozy.

Confesso. Apesar do bom gosto de Sergo - «elle met de la fantaisie dans l’uniforme», cito Vincent Gregoire (atrevido inventor de tendências) -, que me bang! totalmente, nos últimos dias, Nicolas Sarkozy começa a ser Sarko na minha cabeça. Puf, está escrito. «Kärcher, racaille», retumbam, tam tam tam!, aqui dentro de mim, desde 2005, até não sei quando. De momento, vou lhe reconhecendo o atrevimento.

Desde a semana passada que a França está mesmo a fazer barulho, estou parvo com tanta França! Não se julgue que estou parvo só pela Rama Yade, é também pela Fadela – Ni Putes Ni Soumises – Amara, a outra Secretária de Estado de Sarko.

P… que pariu os franceses!


Abílio Neto

sexta-feira, junho 22, 2007

O balanço - As minhas músicas alternativas








As minhas 5 Alternativas


- Herbert – Scale

Vida. Em 2005 desiludiu-me pela 1ª vez, eu sabia que dificilmente ia voltar a falhar, e não falhou. Se Scale ainda não é o prometido album soul de Matthew Herbert está perto de o ser, Something Isn’t Right é a canção que Maurice White não escreveu para os Earth Wind and Fire.

- Koop – Koop Islands

Sim. Koop já passa na Antena 1, principal emissora da rádio pública portuguesa! Há uns anos atrás, só achava isso «normal» se fosse num qualquer programa do Ricardo Saló, por natureza, um programa de música alternativa, mas agora, passada a estupidez da rebeldia exclusivista - acho bem e não tenho outro remédio -, tive a certeza disso quando os fui ver ao vivo ao Casino de Lisboa, a grande maioria do público não conhecia as músicas do 1º album, Waltz for Koop, ao contrário de mim, foram lá para ouvir Koop Islands. Desta vez, não encontrei lá o Johnny, o Dj.

- Nightmares on Wax – In a Space Outta Sound

Regresso. Os N O W não regressaram ao seu início, ao clubbing criterioso, ao jungle estilizado ou ao Quincy Jones, nada, engano, regressaram a África onde provavelmente nunca tinham estado, para manterem-se perfeitamente actuais.

- The Afterlife – Lounge

Ressureição. O melhor album chill-out da década, sem exageros. Bonobo? Em condições normais, se a crítica não tivesse feito o funeral da música ambiental desde o 1º album dos 808 State, Lounge apareceria em todas as listas dos melhores do ano, não apareceu. Por Deus!, está aqui tudo, até está a Cathy Battistessa - cria aqui um clássico instantâneo, Let It Go - a cantora do hino Café Del Mar More Than Every People, dos Leviathan, a cantora ibizian por excelência, a sua frente só está a diva Sally Rodgers, dos A Man Called Adam.

Enquanto o Fisco não me devolver o que me deve. Sigo com 2006.

Abílio Neto

quarta-feira, junho 20, 2007

O dia - Os Refugiados




Faz trinta anos, Fevereiro de 1977, que uma ditadura estúpida - redundante totalidade -, entendeu - discordante concepção-, que devia destruir a minha família, como sempre acontece com as ditaduras, que quase conseguem tudo, quase conseguiram.

O quase, neste caso, não aconteceu porque muitos nos ajudaram a impedir que o ditador levasse o mal que lhe corre no sangue ao limite de uma hemorragia fatal. Suponho que vontade não lhe terá faltado, pois, chegou a haver hemorragia com o Sr. Lereno Mata.

Antes e durante a prisão dos meus pais, entre a pressão da Amnistia Internacional e a pressão de muitos democratas no estrangeiro, e depois, quando sairam da prisão, entre a ajuda da UNCHR / ACNUR e a ajuda de familiares e amigos, devo, e deve a minha família, o evitar da «quase» destruição.

Há coisas que não se pode esquecer. Belo, triste e luminoso, este Dia dos Refugiados. Obrigado.

Abílio Neto

quarta-feira, junho 06, 2007

A Ota - A Descolonização e Portugal



Sendo inevitável, porque vivo em Portugal, venho acompanhando, com alguma reserva higiénica, o debate sobre a construção do novo aeroporto de Lisboa.

E do insuportável barulho a volta, a única coisa que não me sai da cabeça, zumbe-me mesmo aqui dentro, é ter chegado a conclusão que os portugueses são os melhores «hesitadores» - pessoas inspiradas que fazem de hesitar uma qualidade indispensável para a boa decisão - e que, por isso, este país está cheio de «exitadores» - tipos que passam a sua vida a aplaudir ou a apupar os «hesitadores», normalmente, são opinion makers, putativos ou de facto, ou especialistas de qualquer coisa. Portugal consegue ser o único sítio do mundo em que o êxito de muita gente está associado ao aplauso e / ou ao apupo, alguma dessa muita gente, consegue aplaudir e apupar x 2, ou seja, em simultâneo, é o êxito do olha-que-eu-bem-avisei, sem que se perceba qual foi o aviso ou o seu sentido.

A volta de um projecto de construção de um aeroporto cria-se tanto fuzz estúpido, que sou obrigado a imaginar como teria sido a discussão sobre a Descolonização, com os quase - mesmos «hesitadores» e «exitadores», sim, porque em Portugal é quase sempre o mesmo pessoal a fazer, a não fazer ou a desfazer tudo.

Assim, vendo o que se está a passar com o novo aeroporto de Lisboa, se explica o hesitante êxito da Descolonização.

Até há pouco tempo, ainda tinha dúvidas, sobre a forma como teria sido feita a discussão sobre a Descolonização em Portugal, agora, deixei de as ter.

Abílio Neto

quarta-feira, maio 30, 2007

A música - Álibi, Maria Betânia




Chega o verão, chegam mil dúvidas, deve ser do calor. A maior das dúvidas, que tem muito que ver com o criar de disposição para aguentar o sol e a excitada estupidez que passa a marcar ambientes e pessoas: o que é que eu vou ouvir?

Eu já me decidi. Boleros. Optei por passar o verão assim, a ouvir música lenta, bem lenta, mas com ritmo, para dançar, feita para ambientes canalhas e nocturnos, carregada de dramas e de verdades e cheia de mentiras e traições, sempre, em absoluto, canções cantadas por mulheres. Tudo simples, tudo longe do tango.

Sei que o sol dos boleros - é mais um sol do inverno ou um sol dos trópicos, um sol que faz mesmo falta, um sol essencial - , não trasmite a mesma luz que o sol do verão europeu - sol excessivo e desnecessário -, mesmo assim, vou correr o risco.

Infelizmente, já não há muitas boleristas puras, o que dificulta a aquisição de novos cds, contudo, felizmente, ainda há duas grandes cantoras de boleros vivas: Chavela Vargas e Omara Portuondo. Qualquer uma delas, grande cultora do bolero filin, todo ele sentimento, jazz e feeling. Mas, para mim, já não são opção, de tanto ouvir, Cansei de Omara Portuondo (COP) e Cansei de Chavela Vargas (CVV), curiosamente, boas siglas para bandas pop.

E depois, há uma outra grande cantora de boleros , que sendo improvável, é-o, Maria Betânia.
Nesta fase, tenho estado a ouvir o «Álibi», extraordinário álbum de 1978. O Meu Amor e Negue são dois boleros do outro mundo, a carga melodrámitica como a Betânia as interpreta eleva estas 2 canções aos pincaros, o tempo fez o resto, clássicos.
Abílio Neto

quinta-feira, maio 17, 2007

O almoço - Quinta de Catralvos








Num destes sábados, 28 de Abril, para comemorar alguns anos de casado, fui, fomos, eu mais a querida esposa, homenagearmo-nos, almoçando na Quinta de Catralvos, Restaurante Catralvos, em Azeitão.

Para muitos, crítica, gourmets e meros entendidos, é o melhor restaurante de Portugal. Não sei se é, porque ainda tenho que conhecer muitos outros, sobretudo, aqueles bem referenciados, alguns que até têm Estrelas Michelin.

(O que posso dizer sobre Catralvos é que na revista de fim-de-semana do El Mundo, La Luna de Metropolis, o consideraram, em destaque, o melhor restaurante de Portugal. A partir daí, é só ler a crítica portuguesa, ler a forma entusiasmada com que o melhor crítico português, o Duarte Calvão fala dele.)

O Chef.

Para mim, Luís Baena é o mais excitante e criativo chef português cuja obra conheço - e conheço a obra de alguns -, mas também esclareço que «o mais excitante e criativo» é um eufemismo atrevido para dizer, o melhor! O 1º contacto que tive com a sua cozinha foi numa tarde, muito peculiar, exclusivamente dedicada a Degustação de Comida e Azeites, e, desde esse momento, fiquei fã, fã incondicional.

A sua cozinha.

Trata-se de uma cozinha de choque, chegando mesmo a ser inventiva, irónica, pós-moderna, porque não – preste-se atenção aos nomes dos pratos -, a que muitos, por afinidades com o que faz Ferran Adriá no El Bulli, consideram ser «Cozinha Molecular», um conceito difícil e muito mal visto por sectores mais tradicionalistas na gastronomia.

Apesar do nome algo apocalíptico, «Cozinha Molecular» mais não é que o aproveitamento dos avanços técnico-científicos postos a disposição de chefs cuja capacidade de sonhar transborda os limites e as fronteiras do tradicional. Por exemplo, por via disso, melhoraram-se as técnicas de cocção (coze-se a baixas temperaturas e durante horas, a carne pode ser cozida em 18 horas, conservando todas as suas qualidades aromáticas e de sabor, o que a torna mais gelatinosa, quase que se desfaz na boca) e de conservação dos alimentos (a utilização da conservação em vácuo); «descobriram-se» novos produtos (algas, plantas aromáticas etc.) e novas utilizações para os conhecidos (agentes gelificantes, esferificações, espumas etc.); e utilizam-se novos instrumentos (sifões, fornos de precisão etc.).

Não perco tempo em explicar o conceito, garanto que não tem nada de mais, trata-se de tornar contemporânea a haute cuisine, de resto, como sempre, os produtos têm que ser bons - se possível de 1ªssima qualidade e admitem-se produtos de todas as geografias, lá está, só possível na pós-modernidade -, a técnica culinária tem que ser apuradíssima - se possível, deve-se dominar a química, a biologia, várias escolas, várias culinárias e diversas tendências, em espírito de fusão, lá está, a desconstrução - e a apresentação dos pratos tem que estar a altura, exigindo o melhor de todos os sentidos - se possível, tem mesmo que ser espectacular ou radicalmente minimalista, lá está, o pós-modernismo, uma vez mais.

O restaurante.

Espaço muito aprazível, uma quinta para os lados de Azeitão, cujo restaurante está integrado num complexo de edifícios, bem adaptado a bucólica paisagem de árvores e vinhedos.

A sala tem muito boa entrada de luz, janelas altas; decoração subtil e elegante (sem overdose de desenho, mas não tão despida como uma coelhinha da playboy), cadeiras confortáveis e as mesas bem distribuídas, nada de atropelos e de conversas cruzadas. Ao fundo, o melhor chill-out.

Serviço muito bom, eficaz, tranquilo e atento.

Tudo ao serviço das emoções a transmitir pela comida. Foram 3:30 horas.

A comida.

Encheu-me completa e literalmente as medidas, pudera, optamos por fazer o Menu Degustação do Chef, cerca de 20 propostas, que passaram com calma pela nossa mesa e que degustamos, despertando a atenção de todos os nossos sentidos, porque o momento assim o pedia.

Aqui vão:

Couvert
4 molhos para rapar, sem talheres, por favor com pão
Mcsilva
Otedogue com Salsicha de mexilhão com molho de couve lombarda
Cogumelos grelhados com presunto de barrancos e ovo de codorniz
Shot de navalheiras com Ouriço
Capuccino de Espargos e Milho
Dim sum de Bacalhau com puré de alho assado
Sandwiche de Linguado com tomate confitado
Bola de Berlim com Creme de Santola panada com mexilhão e carabineiros
Sorvete de espuma de baunilha mergulhada em azoto
Migas de trufa branca
Burra assada com têmpora de Curgete
Coxas de codorniz com puré de Lentilhas
Risotto de cogumelos com foie gras e ananás de Açores
Escalope de Foie Gras com marmelo e telha de figo
Gauffre de ervas com queijo de azeitão, praliné de amendoa e compota de abobora
Genoise de chocolate
Parfait de pistaccio
Desconstrução conventual, macarrons de encharcada, toucinho-do-céu e barriga de freira

Os destaques:

- Couvert (óptimo pão de trigo e extraordinário azeite de Torres Vedras de baixa acidez)

- Capuccino de Espargos e Milho (para os amantes de espumas, elevada a categoria de gastronomia);

- Shot de Navalheiras com Ouriço (só de cheirar a capa do ouriço, fui a Praia Emília... em São Tomé);

- Dim Sum de Bacalhau (sentia-se a massa e depois o recheio - o bacalhau e as ervas...);

- Gauffre de Ervas com Queijo de Azeitão (estupenda combinação, para além da tradicional queijo / compota, com o sabor de simples waffle de ervas no meio, atenuando o impacto dos quase extremos);

- Sandwich de Linguado com Tomate Confitado (muito simples e muito bom);

- Risotto de cogumelos com foie gras e ananás de Açores (um festival de sabores da terra);

- Burra assada com têmpora de Curgete (a carne assada a baixa temperatura, em 18 horas!).

Ora, se isto não é grande cozinha...? E se isto não é enorme cozinha portuguesa...? Mais, se isto não pós- moderno…? Agora, de tradicional, nada!

Realmente só lhe falta a tal garrafeira, uma grande garrafeira, pois, aqui bebem-se basicamente vinhos produzidos na Quinta e alguns exemplares da Península de Setúbal. Optei por acompanhar com Monte da Charca Branco, Lisa Rosé e Marquês de Lavradio Tinto e para o foie gras uma espécie de abafado de Moscatel só produzido para consumo interno e que me surprendeu, pela parecença com alguns Colheitas Tardia.

Ainda tivemos tempo para provar uma das experiências que, segundo o Luís Baena, deverá aparecer brevemente nas propostas de Catralvos, o spaghetti de... moscatel, que pinta tem a coisa! E o Chef ainda nos confidenciou estar a pensar em criar um Menu para se comer sem talheres, só com as mãos!

Antes de escrever o que seja, devia ter agradecido ao Luís Baena, o chef, uma pessoa incrivelmente simples e elegante no trato - o que diz muito sobre a sua postura e a sua arte -, e também agradecer a sua equipa pela atenção e saber receber, antes de qualquer consideração, insisto, muito obrigado.


Abílio Neto

sexta-feira, maio 04, 2007

O balanço - O meu único Hip Hop de 2006




O meu único Hip Hop.

- Outkast – Idlewild

Único. Podia pôr aqui Common, os Jurassic 5 ou Nas ou T.I., mas não, sendo bons, continuam iguais. Por isso e porque me soam muito pior que o último album dos O, nem sequer consegui ouvi-los mais do que uma vez.

Tenho vontade de ouvir Andre – 3000 – Benjamin a solo.


Idlewild merece destaque, ainda o oiço. Representa, na minha perspectiva, o fim de uma era, é o fim do Hip Hop criativo e rompedor. É preciso avançar, eles sabem, e as pistas estão quase todas aqui e algumas noutros sitios.

A recriação subliminar em N2U de The Rain, do Oran Juice Jones é o cúmulo da street elegância. Ninguém me consegue convencer que este é um album menor quando tem canções como Peaches e Morris Brown, pode ser «menor» para os O, mas nunca para outros, que são quase todos.


Abílio Neto

PS: o Balanço de 2006 segue enquanto o ano fiscal continua...

quinta-feira, abril 19, 2007

A publicidade - Dove Pro Age





Há épocas. A nossa é estranha.

Em França, recentemente, uma sondagem concluiu que a Ségolène Royal era a mulher que os franceses, homens, mais desejam, enquanto homens (imagino o que não seria, se a sondagem fosse feita no universo lésbico...), sobretudo, pelo carisma, pelo seu belo pescoço, pelo sorriso, pela ausência de excessos na imagem, pela simplicidade, por respresentar as mulheres do futuro.

(Nas 10 primeiras, nada de Carla Bruni ou Juliette Binoche ou Emmanuelle Béart ou Christine Arron (atleta).

Em 2º, Michèle Alliot-Marie (a superiormente elegante ministra da defesa do actual governo).

Das lindas, Sophie Marceau (5º) e Charlotte Gainsbourg (8º); das não-lhes-vejo-piada-nenhuma, Amélie Mauresmo em 4º e a Muriel Rubin (humorista) em 9º; e das outras que-sim-lhes-vejo-muito-mais-interesse, a nadadora Laure Manaudou em 7º.

Em Espanha, também há pouco tempo, já se vê, numa sondagem do mesmo género - bem, um pouco diferente, a ideia era saber com quem os Madridenhos preferiam ir de cañas -, deu como resultado que os espanhóis preferiam sair com a Esperanza Aguirre (presidente da Comunidad de Madrid) do que com a Penelope Cruz. E não termino a frase com uma exclamação.

A Visão - a revista mais chata do Mundo, quando se esforça por sê-lo - tentou, na semana passada, analisar o novo anúncio da Dove, resultado com interesse: nenhum. Como era de esperar, por ser a revista que é, e portuguesa, quem escreveu o artigo, preocupou-se em restringir a sua análise à obviedade mais estúpida, ou seja, esta: « a campanha pretende representar a mulher real»!

Senti-me ofendido. 1º, por não conseguir perceber o conceito «mulher real», porque não ficou claro no artigo e devia; e 2º, porque se com «mulher real» querem dizer o que eu penso que querem dizer, «donas de casa» ou mulheres «não canonicamente belas», fica confirmada toda a falta de visão da Visão.

Não me vou atrever a reflectir sobre conceitos como «representação», «mulher», «beleza» ou «real», e muito menos estando os 4 juntos, para auto-convencer-me, é só lembrar-me que:

  • «Sexo e a Cidade», foi uma série de TV;
  • «Donas de Casa Desesperadas», é uma série de TV;

Depois disso, e até muito antes, sinceramente, acho que só estando muito desatentos não se vê que o mundo já está, também, a admirar e a suspirar por outro tipo de mulheres, que não as canónicas miss e top model, p/ ex., que passaram a ser efectivamente uma realidade definitiva para dealers (das 10.000 espécies que existem), e uma não realidade simbólica para o resto dos mortais, desde que se lhes descobriu tudo o que não são nem podiam ser, e desde que a Carrie Bradshaw, de «Sexo e a Cidade», colocou no centro do mundo os Manolo Blahnik, coisa que nenhuma beleza canónica conseguiu com nenhum spot publicitário, para qualquer produto, repare-se, nem a Sarah Jessica Parker - que está longe de ser canónica - o conseguiu para o seu perfume!

Cada campanha da Dove, para mim, é um acontecimento, anseio por ver os outdoors.

Sou suspeito e desconfio que não serei apanhado.

Pessoalmente, sou suspeito, até ter visto Annabella Sciorra no Funeral de Abel Ferrara, a minha «mulher ideal» era a Debra Winger, a mais real e hot das mulheres que alguma vez vi representar e representada, isto, enquanto, pelo meio, fui lendo e admirando a Terry McMillan, a tipa mais groovy a criar mulheres de verdade, daqueles por quem se suspira, sem pensar sobre a sua realidade.

Sou mais suspeito ainda, no caso das portuguesas.

Não conheço portuguesas mais giras e elegantes do que a Maria de Medeiros (quando veste um vestido azul), a Maria João Seixas (quando a gaguez lhe dá mais palavras, duplicado-as), Maria Filomena Mónica (quando toca no cabelo e olha para a camara), a Mísia (quando a franja não sai do lugar) ou a Guta Moura Guedes (quando usa t-shirts). Sinceramente, não conheço. Se houver, agradeço que me indiquem.

Expliquei-me, julgo, sem necessidade de pensar na «Ugly Betty», que não é para aqui chamada!

Abílio Neto

sexta-feira, abril 13, 2007

A figuríssima - Kurt Vonnegut ( 1922 - 2007 )



( 1922 - 2007 )

Abril, de qualquer ano, e 2007 são o tempo da morte da Pós - Modernidade.

Morreu o meu escritor. Cada homem tem o seu escritor, Kurt Vonnegut era o meu. Li toda a sua obra de ficção e parte da outra. O último foi A Man Without a Country, no Verão do ano passado.

(Um verdadeiro fumador até aos 84 anos.)

Apetece-me escrever tudo, mas não vou dizer nada.

A imagem, que é Kurt Vonnegut ou podia ser Niles Rumfoord, Billy Pilgrim, Kilgore Trout, Eliot Rosewater, Rabo Karabekian, Wayne Hoobler ou..., com a pré-licença do autor Joe Petro, aqui.


Abílio Neto

A ousadia - O Engenheiro, um País, a Realidade e um Outro País



Há coisas.

Anteontem vi a entrevista ao Sócrates na RTP. Vi quase toda.

Parece que perdi a parte em que o Primeiro-ministro hipotecou qualquer hipótese de vir a ser reeleito, foi quando «desconsiderou» a classe dos «engenheiros» deste país, ao insinuar que o título, o de engenheiro, repito, engenheiro, é mera prática social; parece-me que ele não deve saber onde está e se não sabe atrevo-me a dizê-lo: «Caro José Sócrates, você está em Portugal, não se meta com os Engenheiros... e, já agora, agradeço que não se meta com os Doutores também»!

Enquanto via a entrevista, 50 minutos de justificações sobre um diploma, veio-me a cabeça uma entrevista do Bill – I Did not Have Sexual Relations With That Woman - Clinton a justificar com dispensável desfaçatez o que fez ou desfez com a Mónica Lewinsky e também pensei em Espanha, sim, outro que quer comparar; não, outro que vai comparar, mesmo.

Espanha.

Há duas semanas, numa quarta-feira também, a TVE emitiu, mais ou menos a mesma hora, o Tengo una pregunta para Usted, um programa apresentado pelo Lorenzo Milá e que consistia em 100 cidadãos comuns fazerem perguntas ao Presidente do Governo José Luis Rodríguez Zapatero, vulgo, ZP. Foram feitas 42 perguntas em quase 3 horas.

Num clima informal, dentro do possível e do orquestrado, o Presidente e o Apresentador em pé, face a plateia da mais representativa Espanha, ou seja, da esquerda à direita, porque Espanha é isso, um país de uma coisa ou de outra.

Como não podia deixar de ser, as questões andaram a volta da ETA, dos Atentados de 11 de Março, da Guerra do Iraque, do Desemprego, da Habitação, da Relação com a Igreja, da Lei da Paridade, dos Mileuristas – uma nova classe que os espanhóis inventaram, pessoas que ganham € 1.000, e que têm que viver «só» com esse salário, o equivalente aos «Quinhentistas» portugueses -, enfim, e perguntas sobre outros temas.

Mas, de todas perguntas, gostei mesmo foi desta:

Um dos 100 espanhóis: Cuánto vale un café?

Zapatero: ... 80 céntimos! – Disse o Presidente, depois de uma pausa de surpresa, algo comprometedora, mas segura.

Foram 8 dias de discussão entre opinion makers a ver se o preço da chávena de café do Presidente era real.

Ainda Espanha.

Na segunda-feira, a Ministra da Educação espanhola anunciou uma reforma ao plano de estudos para o ensino superior, do pacote consta a unificação das engenharias, resumindo, deixa de haver a diferença entre o bacharelato e a licenciatura.

Abílio Neto

terça-feira, abril 10, 2007

O balanço - A minha World Music 2006










5 World. Também com muito atraso.

-
Buika – Mi Niña Lola

Excelente. Desapareceu Concha, ficou Buika e Jodida Pero Contenta. Um registo mais acústico, mais intenso, talvez por ser mais flamenco e mais copla, até tem Ojos Verdes, esse classico, cuja inovação na sua interpretação julgava impossível de superar após Martirio, estava enganado, e bato palmas por isso.

- Martirio – Primavera en New York

Sabedoria. Para quem não a conhece, é aquela Sra. de óculos escuros - que leva sempre - e leque que está na assistência quando Caetano canta no Hable com Ella de Almodovar. Martirio é uma filha / mãe da movida, talvez por isso, já fez tudo na música, tentou a pop alternativa, bem, reinventou o flamenco, bem, urbanizou a copla, bem, tudo com um toque de jazz. Neste cd, pega em tudo o que fez antes e faz jazz.

- Gotan Project – Lunático

Tango. Não podia esperar que os G P voltassem a criar uma composição tão marcante como Críptico, bastou uma vez e chega, só lhes pedia que mantivessem a postura, escrevessem grandes canções e que elaborassem uma obra que eu pudesse dar a ouvir com gosto e entusiasmo nos jantares lá em casa, portanto, cumpriram com alta distinção.

-
Mombassa – African Rhythms & Blues

Repescado. Album editado em 1975 e reeditado agora, ainda bem. Eu pergunto: como foi possível esta obra andar escondida tanto tempo? Lou Blackburn foi um visionário, a música é o titulo do cd, só falta pôr lá jazz.

- Lura – M’bem di fora

Consensual. É a melhor e continuará a ser a melhor caboverdiana da nova geração. Explico. Apesar deste album não ser tão bom como Di Korpu com Alma, Lura é Lura, é urbana, é cosmopolita, consegue ser caboverdiana sem exageros – o que é raro - e tem uma grande voz. De qualquer forma, este ano, também do mundo de Cabo Verde, vieram as coisas musicalmente mais interessantes da África Lusofona, Dane e , por sinal, caboverdeanas, urbanas e cosmopolitas, só lhes falta serem Lura. Vão ter o seu tempo.



Abílio Neto

quarta-feira, março 28, 2007

O tempo - O casal Lindiwe Radebe e Bathini Dambuza




Soube, lendo o Público de há poucos dias atrás. Parece que a notícia foi em Novembro de 2006.

No dia 15.11.2006, o Parlamento Sul-Africano aprovou o diploma Civil Union Bill 230-41 com apenas 3 abstenções, de 400 deputados. Não se tratou de qualquer Lei, nem de qualquer votação.

Legislou-se sobre uma matéria – possibilidade de casamento entre pessoas do mesmo sexo -, que está perto, muito perto mesmo, de colocar a Africa de Sul pós-apartheid ao nível dos países verdadeiramente livres, não fora a teimosia mística, vulgo bias, do Thabo Nbeki no reconhecimento cientifico da SIDA e não fora a teimosia mítica, do mesmo Presidente, em pressionar a destituição do Robert Mugabe, que, cada vez mais, tem uma insuportável pinta gay recalcado e sem piada nenhuma.

De resto, tinha que afirmar a minha concordância - que não militância, admito que até podia ser, caso circunstancialmente tivesse que defender as liberdades -, porque só acredito em Democracias, quando são capazes de garantir e cultivar as liberdades individuais acompanhadas da componente equitativa, como é o caso.

Todo um exemplo a seguir. Aliás, muito bem fundamentado no preâmbulo da Bill, que defende não fazer sentido lutar contra o apartheid e deixar em pendência outro apartheid, ou seja, os sulafricanos mostram a maior das sensibilidades para a defesa do que é correcto, tristemente, no resto do continente muitos ainda continuam a confundir a libertação com as liberdades.
E gostava que alguém me dissesse que elas, a Lindiwe e a Bathini, as da foto, que não são lindas. Dizem que se vão casar.


Abílio Neto

sexta-feira, março 23, 2007

O balanço - A minha Soul de 2006







Atrasado.

Começa aqui o meu balanço.

2006. Ano de grandes canções.

As minhas 4 Soul, num ano de imensa alma.

- John Legend – Once Again

Obrigatório. Sensível, elegante e referencial, toda a Soul num único album, do principio ao fim, só grandes canções! Era previsível que na comunidade negra norte-americana corresse o rumor que JL é gay, pois, pudera, o rapaz não tem nada a ver com o P Daddy e o R&B 7 - Up, está inspirado (Quincy Jones já o vê no Olimpo com Marvin, Steve e Donny), está unicamente interessado em escrever boas canções (na capa do seu cd aparece ao piano), é articulado e bem formado (na literatura do cd, agradece em português «to meu amor obrigado estou praticando o meu portugues»), veste-se bem, é contido e nos seus videos aparecem miudas giras, vestidas e normais. Não é Nu-Soul é Nu Quiet and Storm, oiça-se Each Days Gets Better!

- Dwele – Some Kinda...

Indispensável. Não há hits como no anterior, Subject, há música, há liberdade e há mais Jazz, há o mesmo cool,não peço mais, porque não é preciso.

- Amy Winehouse – Back to Black

Surpreendente. E ainda dizem que os albuns de remisturas não servem para nada, eu conheci a A W através de um, Got the Bug, dos The Bugz in the Attic. Está na moda chamar nomes a miúda, chamem-lhe bêbeda, anoréxica, o que quiserem, é a maior, é a mais excitante. Aos 23 anos, A W escreve e canta canções pessoalíssimas como se já tivesse vivido 46 anos, o dobro da sua idade. Frank, o 1º album, só não é o melhor album Soul britânico de sempre, porque antes, de facto, existiram o Vol. I dos Soul To Soul e os albuns dos Loose Ends e do Omar.

- Kelis – Kelis Was Here

Linda. O regresso da The Most Stylish Girl in Soul Music and Others, sem os Neptunes, mas com óptima música, o habitual bom gosto e um novo penteado, ao lado dela Beyonce é uma miúda da Cova da Moura e Corine Rae uma filha de retornado. Ok, musicalmente, não tem nada a ver com Tasty.


Abílio Neto

terça-feira, março 20, 2007

O vinho - Montrose Grand Cru Classé 1989



Château Montrose Grand Cru Classé 2 eme. Um Bordéus. Um Médoc. Um Saint Estéphe de 1989. Provavelmente, dos melhores vinhos tintos que alguma vez bebi.

Quando se fala de alguns vinhos, convem utilizar a linguagem do futebol - há futebol da distrital e há futebol da Champions -, e o Montrose, se se quiser comparar bem, é um vinho «Gálatico», é um Zidane dos vinhos, até com as suas cabeçadas.

Durante uma tarde de Janeiro, deste ano, na York House, exclusivamente dedicada ao gourmetismo - uma prova de comida organizada pela Paulina Mata (uma autoridade em cozinha molecular e uma apoixanada pela gastromia) e pelo chef Luís Baena (dono da cozinha daquele que, para muitos insuspeitos, é o melhor restaurante de Portugal, o Quinta de Catralvos) e uma de azeites organizada pelo casal Margarida e Paulo Rodrigues (grandes apreciadores e divulgadores dos prazeres gourmand) -, que terminou num descontraído jantar em grupo, foi nesse momento, tive o privilégio de, pela 1ª vez, ter bebido um Montrose.

Estou a falar de um exemplar de 1989.

Em condições normais, tratar-se-ia de um vinho a caminho do declínio, pelos anos em garrafa. Mas nada disso. Após 2 horas de aereação em decantador, foi servido.

Mal me serviram, levantei o copo, olhei e encontrei-o vivo, vermelho, com algum rebordo atijolado, por certo, mas límpido. Agitei, e vi as lagrimas cairem lentas e vigorosas. Continuei a olhar. Tinha que observar, quase espiar, antes de o levar ao nariz. Respirei, olhando para os restantes convivas, todos especialistas, uns da Revista de Vinhos, outros críticos renomados, outros produtores de vinhos, outros donos de garrafeiras selectas, outros ainda grandes gourmets, o menos de todos, eu.

Até que a pergunta surgiu da boca do Paulo Rodrigues, a quem tenho que agradecer a oferta do momento, foi ele quem levou a garrafa: «alguém consegue chegar lá?».

Disse baixinho e atrevidamente à Angela, não o podia fazer de outra forma: «é um Bordéus, um Médoc...». E só provei um Médoc uma única vez, um 1997!

Respirei outra vez. E levei o copo ao nariz. Juro que se não soubesse, diria que o vinho estava podre, tal era a profusão de aromas terciários, os que crescem com o envelhecimento, o cheiro a couro, a estrebaria. Respirei fundo, agitei outra vez e voltei a cheirar, e começou a aparecer, por detrás do murro dos «maus» aromas, a fruta, a frescura dos frutos silvestres e a complexidade das especiarias.

Finalmente, bebi. Um pequeno gole e a quase perfeição entrou e veio-me a cabeça, a elegância, o equilíbrio e a impossibilidade de ter o alcóol bem integrado, bem dentro da fruta, como um todo, um Tom & Jerry em estado líquido.

Voltei a agitar.

«É o Montrose...», disse o Paulo. Não foi preciso mais. Muitos de nós ficamos lá perto. E fomos confessando sobre as nossas especulações.

3 horas depois, perto do final do jantar, ainda tinha um pouco do vinho, voltei a fazer tudo o que fiz no início, e teimosamente, mantinha-se elegante, equilibrado e impossivelmente delicioso, como se o tivessem acabado de servir.

Abílio Neto




sexta-feira, março 16, 2007

O filho - Paulo Portas



Algumas, poucas, semanas depois de ter entrevistado José Ribeiro e Castro a Maria Flôr Pedroso entrevistou Paulo Portas, o ex e futuro ex - líder do CDS-PP, e eu ouvi a entrevista, com igual atenção e em diferente circunstancia, desta vez, não estava a escolher vinhos para provar, nem estava a preparar o menu para o fim de semana, estava a arrumar a cozinha, depois de um jantar lá em casa, com a Rosa, a Cláudia e o Pedro no dia anterior.

(Um jantar que teve como momento sublime o casamento perfeito entre um magnífico riesling alemão da casa Josef Biffar, o Deidesheiner Kieselber, Kabinett Trocken, 2005 e a pasta do «mar tropical», desta vez sem manga, da minha querida esposa.)

Adiante.

Nesta entrevista, a Flôr não insistiu nos paradoxos da direita mediterrânica - porque estava em presença de Paulo Portas, um crooner do pensamento ideológico, mais Tom Jones que Tony Bennett, por isso, camaleónico, sabe ao que vai, vai e sabe-a toda -, persistiu no desmontar da estratégia usada por Portas para voltar ao poder. Pouco interessante, portanto, porque já se sabia que era inevitável que o regresso acontecesse e óbvia a forma como iria acontecer.

E tudo é tão esperado, que eu sabia que, desta vez, Paulo Portas regressaria liberal, e soube-o no momento em que apareceu com as patilhas à agricultor ribatejano, quem se penteia daquela forma obrigatoriamente está querer dizer: «não sou o que pensam que pareço!». Pense-se nos travestis.

O interessante mesmo foi o final, quando a Flôr pede aos entrevistados que indiquem uma canção para terminar o programa. E o Paulo Portas que consegue ser mais cínico do que eu, escolheu, veja-se, Rehab, da Amy Winehouse!

They tried to make me go to rehab but i said 'no, no, no' Yes I've been black but when i come back you'll know know know I ain't got the time and if my daddy thinks I'm fine He's tried to make me go to rehab but i won't go go go

A todos os níveis, conclusivo.

Abílio Neto

quinta-feira, março 08, 2007

A figura - Jean Baudrillard ( 1929 - 2007 )



( 1929 - 2007 )

Provavelmente, o pensador que mais me influenciou. E tudo começou com o «America», em 1989. Desde aí, sei, e não tenho vergonha em o afirmar, que sou efectivamente um pós-modernista. Desde aí, nunca mais parei de ler Jean Baudrillard.

Apetece-me ficar em silêncio.

Cito a obra acima:

As coisas nunca duram mais tempo do que o tempo em que acontecem.

A América é a versão original da modernidade, nós (europeus) somos a versão dobrada ou legendada.

O que se pensou na Europa realiza-se na América.

Eles fabricam o real a partir das ideias, nós transformamos o real em ideias ou ideologia.

A salvação já não depende do divino ou do estado, mas da organização prática ideal.

Ainda houve quem questionasse as suas propostas e quem se risse das suas análise, suponho que nenhum deles tenha sobrevivido para ver a América de Bill Clinton, ou não sobreviveram, ou viveram e não quiseram ver. E os que não quiseram ver, entragaram a América ao Bush.

Não sei se vou conseguir ficar-me por aqui e em silêncio, mas desde já, agradeço ao Professor toda a ironia e cinismo que transmitiu, com imenso gozo.

Abílio Neto