sexta-feira, maio 26, 2006

A política - As Legislativas de 26.Março.2006, os vencedores (I)





Em política, há vencedores e vencidos, e depois, há dois tipos de vencedores: os que vencem já e os que vencem depois. No caso santomense, até às últimas eleições legislativas, foi sempre muito difícil distinguir estes dois tipos de vencedores, por 3 razões muito simples.

A 1ª razão, tem que ver com a falta de distinção ideológica dos partidos políticos, pelo que, até estas eleições, seja qual tivesse ganho, não foi relevante, em termos da apreciação de uma razoável gestão de utilização qualitativa do poder, porque, objectivamente, não tem havido grandes alterações na forma como os sucessivos vencedores têm vindo a gerir as estadas na governação, quando legítima e imediatamente a assumem.

(Quase como se o país só tivesse 1 único grande partido, representando os actos eleitorais uma espécie de Congresso Nacional do mesmo e as diversas siglas uma espécie de nomes de tendências internas).

A 2ª delas, que é uma continuação da anterior, tem que ver com o facto de os líderes políticos recusarem assumir responsabilidades pelos resultados, como sendo seus, ou seja, como a avaliação das suas estratégias e das suas acções, logo, poder deduzir-se não ter vindo a estar realmente em causa, nas sucessivas eleições, diferenças no pensamento, nas propostas e nas práticas, mas sim distintos caracteres que representam e significam o mesmo, o que não os distingue e o que não se distingue.

(E a coisa piora quando se chega ao poder, se no a priori, não se é capaz de responsabilizar-se, percebe-se que durante o seu exercício, o a posteriori, a postura mantém-se, e percebe-se melhor se a governação é exercida pelo mesmo bloco de pessoas, que pensam semelhante e agem igual, o que justifica a alternância da mediocridade dos sucessivos governos).

Finalmente, a 3ª razão. Tem tudo que ver com o carácter fragmentário das diversas elites santomenses, que não sabendo criar força social por si, preferem diluir-se indistintamente, num único bloco, que passa a ser a fonte única do poder, não sobrando nada a volta que possa pressionar, que possa condicionar e que possa alterar a situação. E isso nota-se quando se fala com um santomense médio, no seu discurso, a palavra elite nunca é plural, é sempre singular, não lhe passa pela cabeça que devem existir várias elites, no sentido horizontal e vertical de posicionamento. E isso também se nota quando já não é possível a um santomense médio diferenciar com segurança as elites políticas das empresariais, p/ ex., e assim acontece porque a lógica é mesmo a de acantonar a liderança social num único bloco político.

Deste modo, resumidas as razões, superficialmente, pode parecer que depois destas últimas eleições tudo terá ficado na mesma, pois, mas não ficou, engana-se quem insista em fazer uma leitura simples, sem tentar entender que havendo um vencedor já, como se sabe, a Coligação MDFM-PCD, algo faz-me pensar que haverá vencedores depois, como se devia saber, a ADI, e, como não se devia saber, o PCD.

Antes, vejamos em abstracto.

O raciocínio e as distinções.
O vencedor já é o partido que ganha efectivamente as eleições e obriga-se a governar. O vencedor depois é o partido que, não tendo ganho, longe disso, pode chegar ao poder, pré-negociando (coligação) ou negociando, caso lhe convenha, ou pode optar por não ir para o governo, mantendo-se na oposição, convenientemente, sem pressões, à espera de qualquer coisa. O 1º cresce o que tinha que crescer, enquanto que o 2º mantém o seu potencial de crescimento intacto.

A grande diferença entre um vencedor já e um vencedor depois é que o tempo político joga sempre a favor deste.

A realidade e as circunstancias.
Normalmente, isto acontece em ambientes políticos muito fragmentados e instáveis, que dificilmente são propensos a maiorias de um só partido, nos quais tudo se processa sem surpresas, as eleições nunca esclarecem, o acesso ao poder reparte-se por interesses que se fazem representar. Normalmente, de acordo com os resultados das eleições, entre o vencedor já e o vencedor depois existe sempre um outro partido, o «derrotado», que não conta para o futuro imediato, porque saiu do governo e porque não entende que tem que mudar (se quiser ter opções) e que costuma ser um grande partido, que domina e contamina o estado, estando ou não no poder.
(continua)
Abílio Neto

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