quarta-feira, julho 11, 2007

A razão - O político, Tony Blair





Ninguém se lembra já, lá pelos anos 80 e início dos 90, da estranha relação da esquerda ocidental - sem desculpas, a outra esquerda não conta, porque recusou-se a contar, pois, há muito que resolveu descontextualizar-se - com o poder (com o governo, com o fazer ou o executar políticas, que é o que verdadeiramente interessa em política) antes de Bill Clinton e Tony Blair aparecerem, pois, eu recordo-me: má, malíssima!

(Pior que a relação dos Blur e os Oasis.)

Assente em velhos paradigmas e em velhas realidades, sem perceber o que o novo tempo lhe propunha, sem perceber que o Acid e o Jazz já se estavam juntando, a esquerda estava condenada a ganhar algumas eleições, às vezes, por uma legislatura, e e e... se, no entanto, não caísse na estupidez - e normalmente caía - de envolver-se num escândalo qualquer, e lá vinha crise e lá vinha a queda do governo e lá vinha a verdade, da altura, «a esquerda não sabe governar...», e não sabia e era verdade.

A esquerda não era consistente, não era competente, nem sabia o que fazer com o poder, sobretudo, em sociedades estruturadas a volta de uma classe média comoda com o mercado e as suas regras, que nem queria ouvir falar em «ideias» ou «esboços de ideias» que pudessem levar Paris a parecer-se com Gdansk, quanto mais com Havana.

Apesar do Tio Mitterand, que era tio e padrinho, e de alguma esquerda mais, a que era tradicional, caso nórdico, a que se limitava a gerir velhos ódios sociais contra a memória de uma direita autoritária, casos espanhol, grego e italiano, não havia outra esquerda que não fosse a residual e deprimida pró - Leste, irrelevante, que só não era do terceiro mundo porque os seus dirigentes eram loiros ou com cabelo branco e não andavam fardados e com uma pistola.

Blair fez-se neste quadro. Ideologicamente. Cultivou-se, relacionando-se com a esquerda liberal, a da London School of Economics (LSE) e a do Centre for Contemporary Cultural Studies (CCCS) University of Birmingham, interiorizou, dos 1ºs, que só pode haver redistribuição se houver uma economia forte e um estado frugal e bem gerido, e dos outros, que os media só aparentemente reflectem a realidade, ele servem melhor para construir a realidade e que articular é a forma de associar e que ‘pode’ estabelecer a unidade de dois elementos distintos sob determinadas condições, é uma relação que não é necessária, determinada, absoluta e essencial para todas as épocas.

E assim refez a esquerda. Criou com Clinton o Neo Centro Radical ou 3ª Via. Quando no poder.

Para mim, Blair é Acid Jazz, é a junção de muito improvável para criar maravilha.

O Iraque foi um pormenor para distraídos.

Obrigado, 1º Ministro, só o Sr., depois do que já fez, merecedor de um bom descanso, se disponibilizaria a ir aturar os Palestinianos, que já entre não se aturam.


Abílio Neto