quinta-feira, abril 19, 2007

A publicidade - Dove Pro Age





Há épocas. A nossa é estranha.

Em França, recentemente, uma sondagem concluiu que a Ségolène Royal era a mulher que os franceses, homens, mais desejam, enquanto homens (imagino o que não seria, se a sondagem fosse feita no universo lésbico...), sobretudo, pelo carisma, pelo seu belo pescoço, pelo sorriso, pela ausência de excessos na imagem, pela simplicidade, por respresentar as mulheres do futuro.

(Nas 10 primeiras, nada de Carla Bruni ou Juliette Binoche ou Emmanuelle Béart ou Christine Arron (atleta).

Em 2º, Michèle Alliot-Marie (a superiormente elegante ministra da defesa do actual governo).

Das lindas, Sophie Marceau (5º) e Charlotte Gainsbourg (8º); das não-lhes-vejo-piada-nenhuma, Amélie Mauresmo em 4º e a Muriel Rubin (humorista) em 9º; e das outras que-sim-lhes-vejo-muito-mais-interesse, a nadadora Laure Manaudou em 7º.

Em Espanha, também há pouco tempo, já se vê, numa sondagem do mesmo género - bem, um pouco diferente, a ideia era saber com quem os Madridenhos preferiam ir de cañas -, deu como resultado que os espanhóis preferiam sair com a Esperanza Aguirre (presidente da Comunidad de Madrid) do que com a Penelope Cruz. E não termino a frase com uma exclamação.

A Visão - a revista mais chata do Mundo, quando se esforça por sê-lo - tentou, na semana passada, analisar o novo anúncio da Dove, resultado com interesse: nenhum. Como era de esperar, por ser a revista que é, e portuguesa, quem escreveu o artigo, preocupou-se em restringir a sua análise à obviedade mais estúpida, ou seja, esta: « a campanha pretende representar a mulher real»!

Senti-me ofendido. 1º, por não conseguir perceber o conceito «mulher real», porque não ficou claro no artigo e devia; e 2º, porque se com «mulher real» querem dizer o que eu penso que querem dizer, «donas de casa» ou mulheres «não canonicamente belas», fica confirmada toda a falta de visão da Visão.

Não me vou atrever a reflectir sobre conceitos como «representação», «mulher», «beleza» ou «real», e muito menos estando os 4 juntos, para auto-convencer-me, é só lembrar-me que:

  • «Sexo e a Cidade», foi uma série de TV;
  • «Donas de Casa Desesperadas», é uma série de TV;

Depois disso, e até muito antes, sinceramente, acho que só estando muito desatentos não se vê que o mundo já está, também, a admirar e a suspirar por outro tipo de mulheres, que não as canónicas miss e top model, p/ ex., que passaram a ser efectivamente uma realidade definitiva para dealers (das 10.000 espécies que existem), e uma não realidade simbólica para o resto dos mortais, desde que se lhes descobriu tudo o que não são nem podiam ser, e desde que a Carrie Bradshaw, de «Sexo e a Cidade», colocou no centro do mundo os Manolo Blahnik, coisa que nenhuma beleza canónica conseguiu com nenhum spot publicitário, para qualquer produto, repare-se, nem a Sarah Jessica Parker - que está longe de ser canónica - o conseguiu para o seu perfume!

Cada campanha da Dove, para mim, é um acontecimento, anseio por ver os outdoors.

Sou suspeito e desconfio que não serei apanhado.

Pessoalmente, sou suspeito, até ter visto Annabella Sciorra no Funeral de Abel Ferrara, a minha «mulher ideal» era a Debra Winger, a mais real e hot das mulheres que alguma vez vi representar e representada, isto, enquanto, pelo meio, fui lendo e admirando a Terry McMillan, a tipa mais groovy a criar mulheres de verdade, daqueles por quem se suspira, sem pensar sobre a sua realidade.

Sou mais suspeito ainda, no caso das portuguesas.

Não conheço portuguesas mais giras e elegantes do que a Maria de Medeiros (quando veste um vestido azul), a Maria João Seixas (quando a gaguez lhe dá mais palavras, duplicado-as), Maria Filomena Mónica (quando toca no cabelo e olha para a camara), a Mísia (quando a franja não sai do lugar) ou a Guta Moura Guedes (quando usa t-shirts). Sinceramente, não conheço. Se houver, agradeço que me indiquem.

Expliquei-me, julgo, sem necessidade de pensar na «Ugly Betty», que não é para aqui chamada!

Abílio Neto

sexta-feira, abril 13, 2007

A figuríssima - Kurt Vonnegut ( 1922 - 2007 )



( 1922 - 2007 )

Abril, de qualquer ano, e 2007 são o tempo da morte da Pós - Modernidade.

Morreu o meu escritor. Cada homem tem o seu escritor, Kurt Vonnegut era o meu. Li toda a sua obra de ficção e parte da outra. O último foi A Man Without a Country, no Verão do ano passado.

(Um verdadeiro fumador até aos 84 anos.)

Apetece-me escrever tudo, mas não vou dizer nada.

A imagem, que é Kurt Vonnegut ou podia ser Niles Rumfoord, Billy Pilgrim, Kilgore Trout, Eliot Rosewater, Rabo Karabekian, Wayne Hoobler ou..., com a pré-licença do autor Joe Petro, aqui.


Abílio Neto

A ousadia - O Engenheiro, um País, a Realidade e um Outro País



Há coisas.

Anteontem vi a entrevista ao Sócrates na RTP. Vi quase toda.

Parece que perdi a parte em que o Primeiro-ministro hipotecou qualquer hipótese de vir a ser reeleito, foi quando «desconsiderou» a classe dos «engenheiros» deste país, ao insinuar que o título, o de engenheiro, repito, engenheiro, é mera prática social; parece-me que ele não deve saber onde está e se não sabe atrevo-me a dizê-lo: «Caro José Sócrates, você está em Portugal, não se meta com os Engenheiros... e, já agora, agradeço que não se meta com os Doutores também»!

Enquanto via a entrevista, 50 minutos de justificações sobre um diploma, veio-me a cabeça uma entrevista do Bill – I Did not Have Sexual Relations With That Woman - Clinton a justificar com dispensável desfaçatez o que fez ou desfez com a Mónica Lewinsky e também pensei em Espanha, sim, outro que quer comparar; não, outro que vai comparar, mesmo.

Espanha.

Há duas semanas, numa quarta-feira também, a TVE emitiu, mais ou menos a mesma hora, o Tengo una pregunta para Usted, um programa apresentado pelo Lorenzo Milá e que consistia em 100 cidadãos comuns fazerem perguntas ao Presidente do Governo José Luis Rodríguez Zapatero, vulgo, ZP. Foram feitas 42 perguntas em quase 3 horas.

Num clima informal, dentro do possível e do orquestrado, o Presidente e o Apresentador em pé, face a plateia da mais representativa Espanha, ou seja, da esquerda à direita, porque Espanha é isso, um país de uma coisa ou de outra.

Como não podia deixar de ser, as questões andaram a volta da ETA, dos Atentados de 11 de Março, da Guerra do Iraque, do Desemprego, da Habitação, da Relação com a Igreja, da Lei da Paridade, dos Mileuristas – uma nova classe que os espanhóis inventaram, pessoas que ganham € 1.000, e que têm que viver «só» com esse salário, o equivalente aos «Quinhentistas» portugueses -, enfim, e perguntas sobre outros temas.

Mas, de todas perguntas, gostei mesmo foi desta:

Um dos 100 espanhóis: Cuánto vale un café?

Zapatero: ... 80 céntimos! – Disse o Presidente, depois de uma pausa de surpresa, algo comprometedora, mas segura.

Foram 8 dias de discussão entre opinion makers a ver se o preço da chávena de café do Presidente era real.

Ainda Espanha.

Na segunda-feira, a Ministra da Educação espanhola anunciou uma reforma ao plano de estudos para o ensino superior, do pacote consta a unificação das engenharias, resumindo, deixa de haver a diferença entre o bacharelato e a licenciatura.

Abílio Neto

terça-feira, abril 10, 2007

O balanço - A minha World Music 2006










5 World. Também com muito atraso.

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Buika – Mi Niña Lola

Excelente. Desapareceu Concha, ficou Buika e Jodida Pero Contenta. Um registo mais acústico, mais intenso, talvez por ser mais flamenco e mais copla, até tem Ojos Verdes, esse classico, cuja inovação na sua interpretação julgava impossível de superar após Martirio, estava enganado, e bato palmas por isso.

- Martirio – Primavera en New York

Sabedoria. Para quem não a conhece, é aquela Sra. de óculos escuros - que leva sempre - e leque que está na assistência quando Caetano canta no Hable com Ella de Almodovar. Martirio é uma filha / mãe da movida, talvez por isso, já fez tudo na música, tentou a pop alternativa, bem, reinventou o flamenco, bem, urbanizou a copla, bem, tudo com um toque de jazz. Neste cd, pega em tudo o que fez antes e faz jazz.

- Gotan Project – Lunático

Tango. Não podia esperar que os G P voltassem a criar uma composição tão marcante como Críptico, bastou uma vez e chega, só lhes pedia que mantivessem a postura, escrevessem grandes canções e que elaborassem uma obra que eu pudesse dar a ouvir com gosto e entusiasmo nos jantares lá em casa, portanto, cumpriram com alta distinção.

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Mombassa – African Rhythms & Blues

Repescado. Album editado em 1975 e reeditado agora, ainda bem. Eu pergunto: como foi possível esta obra andar escondida tanto tempo? Lou Blackburn foi um visionário, a música é o titulo do cd, só falta pôr lá jazz.

- Lura – M’bem di fora

Consensual. É a melhor e continuará a ser a melhor caboverdiana da nova geração. Explico. Apesar deste album não ser tão bom como Di Korpu com Alma, Lura é Lura, é urbana, é cosmopolita, consegue ser caboverdiana sem exageros – o que é raro - e tem uma grande voz. De qualquer forma, este ano, também do mundo de Cabo Verde, vieram as coisas musicalmente mais interessantes da África Lusofona, Dane e , por sinal, caboverdeanas, urbanas e cosmopolitas, só lhes falta serem Lura. Vão ter o seu tempo.



Abílio Neto