segunda-feira, março 06, 2006

O artigo - A literatura e o seu destino, Eduardo Prado Coelho




(..) Segundo Stuart Hall nos propõe, devemos distinguir em primeiro lugar uma concepção da literatura (e da arte em geral) que é democratizada e socializada, na medida em que não se descrevem apenas os cumes da história. A cultura é agora vulgarizada porque descreve tudo aquilo a que uma sociedade recorre para dar sentido á sua própria existência (..) a cultura é um modo de vida global que se refere ao exercício das práticas sociais.

Que resulta disto tudo? Uma banalização de toda a experiência estética. A arte é por vezes de uma vulgaridade rasteira, ou então torna-se autocrítica (num sentido menos empolgado do que as rejeições de modernisno das vanguardas contra contra um progresso sem exaltação romântica). Mas, desta banalização resultam dois efeitos bem sintomáticos. Por um lado, perde-se a hierarquia dos objectos estéticos. Não há objectos meramente decorativos e outros que sejam sublimes. Há apenas objectos. E é tudo.

Em segundo lugar, a assimetria que uma obra de arte sempre pressupões (entre quem a fez e quem a vê) torna-se social, étnica, ligada à relação de forças entre as pessoas e os povos em geral.

É por isso que se desenvolvem no campo literário as análises de tipo feminista ou os estudos sobre o chamado «pós-colonial».

E faz cada vez mais sentido aquilo que a Maria Alzira Seixo escreve nas páginas desta revista (Cadernos de Literatura Comparada): «A necessidade cada vez maior que o universitário tem de pensar os media e a massificação.» Já não era sem tempo.

In Público, 2 de Março de 2006, A Literatura e o seu destino, Eduardo Prado Coelho, Professor Universitário.

Como gostei de ler o artigo e como o tema me interessa, trago para aqui, 1º, a versão.

(Normalmente leio o EPC na expectiva de ler um artigo como o acima citado, uma enorme e actual reflexão com poucas palavras, lamentavelmente, só tenho o prazer de ver isso acontecer não mais do que uma vez por ano. Entendo. Não se pode comer trufas negras todos os dias.)

Bem, como com um simples sampler não se faz uma canção, em 2º lugar, aqui vai o loop, o scratch e o refrão. Enfim, para entender-se o quadro geral, deixo para trás a cover version e vou a canção original e a nova canção feita a partir... da canção original.

«Cultural Studies» entende a vida como um projecto político radical, fixando a centralidade intelectual no quotidiano e na cultura popular.

O contributo de Hall é significativo no sentido em que ele não dá prioridade a um modo exclusivamente académico como o meio de produzir conhecimento e compreensão. A escrita pós-colonial reconhece o trabalho fundado e produzido pela intersecção da arte e da cultura popular.

No «Postmodernism and Popular Culture» eu faço 2 sugestões muito simples. Eu sugiro que o superficial não representa necessariamente uma queda da cultura no sem significado e no sem valor. A análise do considerado trivial não deveria permanecer ao nível da leitura semiótica. Nesse sentido, o posmodernismo emergiu como uma lufada de ar fresco ao permitir aos críticos culturais transferir o seu olhar na procura de significado no texto indo, antes, em direcção ao jogo sociológico entre imagens e entre diferentes formas culturais e instituições.

A critica de Lyotard as meta-narrativas da história coincide com o emergir da crítica pos-colonial, o sujeito subalternizado que não consegue encontrar na análise Marxista um espaço confortável para si.

Stuart Hall argumenta que o novo mundo é muito diferente. Há alterações nos limites e nas fronteiras, novos mapas, novos nacionalismos, e transnacionalismos. Ele parace estar a sugerir que o que nós temos que fazer, como sociólogos, é explicar estas mudanças. Em vez de defender a modernidade, Hall relembra-nos sobre o «outro lado» da modernidade. Onde alguns viam ordem, razão e objectivos alcançados, humanidade e visão, ele vê selvageria e turbulência. Ele é uma voz pos-colonial.

In Postmodernism and Popular Culture, Angela Mcrobbie, 1994. Routledge.

Abílio Neto

1 comentário:

Abílio Neto disse...

Oh Sr. Brassalano Graça,

Lá vamos nós!

As últimas coisas do S. Hall estão muito boas, mas diferenciam-se muito pouco dos seus outros «amigos», A. Giddens, E. Said e U. Beck, ou seja, perdeu radicalidade, mas ganhou muito ao tornar o seu pensamento mais acessível.

Uma maldade muito democrática:

http://society.guardian.co.uk/futureforpublicservices/comment/0,8146,1013220,00.html

Suponho que conheças este artigo. Grande reflexão crítica sobre a 3ª Via, não é? Quando a crítica tem qualidade só se pode reflectir sobre ela.

Abraços,

Abílio Neto