quarta-feira, março 08, 2006

O filme - Syriana, Stephen Caghan




Se me perguntarem pelos meus cineastas (clássicos) preferidos, com alguma reserva, direi Frank Capra e Martin Ritt. Os dois Liberais. O 1º mais esteta, logo, alvo de quase todos os reconhecimentos; o outro, mais político, se calhar por fazer um cinema mais árido e directo, por isso, menos celebrado e considerado. Os dois muito bons.

Como é bom constatar que, hoje, o cinema liberal, comprometido, está de volta, em força, nos EUA. (Conclui-se bem pelos Oscares da Academia). O que significa que a criatividade americana quer dizer ao mundo, que ainda queira ouvir, como, apesar do crescente anti-americanismo, ainda consegue ser auto-reflexivo, sem estridencias e palermices. (Importa reter as palavras de Clooney, quem mais, na noite dos Oscares, no domingo passado).

Na passada sexta-feira, fui ao cinema ver Syriana.

Amanda Peet, 1º as senhoras (vista recentemente em DVD no Melinda, Melinda, do Woody Allen, sensacional aí e aqui), George Clooney, Christopher Plummer, Matt Damon, Chris Cooper, Mazhar Munir, Alexander Siddig e outros.

O filme tem muita qualidade. Está rodado num estilo docu-drama pós-moderno, tudo está feito para parecer uma grande reportagem com bom-gosto, ou seja, feita pela CBS, CNN ou BBC (e não pelo Michael Moore); o petróleo e o poder são os temas, mas também podiam ser o homem, as suas casas, a miragem e o deserto; o argumento é extarordinário para quem goste puzzles e de palavras com ritmo e citações fortes; a narrativa é fragmentada, exigindo imensa atenção para segui-la convenientemente; e um casting irrepreensível, à altura da direcção de actores, soberba, tendo em consideração a diversa proviniência dos actores.

A penúltima cena do personagem de Matt Damon, Bryan Woodman, um homem abatido e acidentado pela realidade, de costas voltadas para a camara, ie, para o mundo, perdido, no meio do deserto; a penúltima do personagem de George Clooney, um condutor solitário que se perde num cruzamento de duas auto-estradas no meio do deserto; e a última cena do advogado negro que chega a casa e encontra, sentado à porta, o pai perdido de bebâdo, são de um simbolismo atroz.

Confesso que não percebi bem a utilidade na história do personagem do pai do advogado negro, fiquei com a sensação que tinha algo que ver com George W. Bush! Parece-me, desconfio. Ébrio, descolocado, desconhecedor, desacertado e não percebo bem a sua utilidade na História. E aposto que cada vez mais se vai perceber menos. Refiro-me ao Bush.

«Todos se julgam leões e vão pensar que tu és um cordeiro, mas estou convicto que vais ser o leão que vai comer os cordeiros». Dean Whiting, personagem do Christopher Plummer.


Abílio Neto

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