quinta-feira, fevereiro 02, 2006

O meu cinema de 2005






E os melhores filmes, no cinema.


- A InterpreteSidney Pollack
Incrível interpretação de Nicole Kidman. Uma mais. Não me venham com merdas do género «e aqueles trejeitos forçados de personalidade perturbada e aquele sotaque... inverosímel, cabotino!» Não, não posso aceitar esse tipo de argumento, sobretudo conhecendo muitos portugueses «retornados» de África, defendo que o filme tem tudo a haver com essa perturbante e desafiadora realidade. O filme propõe-se, e consegue, retratar, mais do que tudo, o choque da «deslocalização» de personalidades face a «localização» de personalidades na época da Globalização, só isso. Como amostra, perfeito.


- O Jardineiro SilenciosoFernando Meirelles
Outra vez África. Sinceramente, quando soube que a actriz principal era a Rachel Weiz, porque não conhecia a obra de Le Carré, pensei: «Oh meu Deus, gritaria e overacting com fartura!» Estava a pensar nas passagens da actriz por África, Egipto, noutro filme-sequela que recuso-me a mencionar. Nada mais errado. Ofusca Ralph Fienes com uma interpretação magistral, cheia de olhar e de elan. O realizador percebeu África e o continente agradece-lhe. A sua personagem faz o percurso contrário ao da personegem da Nicole Kidman em A Interprete, conseguindo, contudo, chocar, não pela perturbação evidente e visceral, mas pela perturbação contida, que se sente cada vez que ela aperece no ecrã, e que se deve à inquietude, à revolta e ao sonho que alimenta de ainda poder mudar o mundo, quando percebe que jamais o poderá fazer. Significativamente, a cena da palestra em Inglaterra «marca» o decrescendo da exaltação da rebeldia.


- Ela Odeia-meSpike Lee
Chegou a vez de Spike Lee homenagear James Baldwin, homenageando a liberdade de opção sexual. E fá-lo na perfeição. Simbolicamente, coloca, de inicio, o personagem masculino na pele do vulgar macho homofóbico, muito querido a cultura pop negra mainstream (e a cultura africana tradicional também, existe aqui uma matriz!), sobretudo à do hip-hop da MTV, mas com o evoluir da trama a narrativa ganha complexidade e força. Desconfio que a aparição do Q-Tip como actor secundário não foi casual, «Bonita...you gotta put me on...i wanna tell you things some brother don´t»! E o prazer de ver grandes actores. Pessoalmente, não gostei do casting do actor principal, preferia que tivesse sido o britânico Chiweter Ejiofor, mais credível, mais versátil e mais camaleónico, adaptar-se-ia melhor aos diversos momentos psicológicos da história. Uma opinião.

De realce, um ano mais sem cinema africano no grande ecrã português, lamenta-se.


Abílio Neto

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