sexta-feira, outubro 13, 2006

O livro - Um Novo Mundo Feliz, Ulrich Beck




A tese é muito simples: o mercado laboral europeu tendencialmente está a aproximar-se dos mercados laborais do «3º mundo», no qual a precariedade do vínculo é a nota dominante, sendo o Brasil apresentado como case study.
Por isso, julga, e bem, o autor que o Welfare State está condenado, o que poderá levar, muito provavelmente, a condenação da própria democracia de cariz assistencial, conforme se conhece hoje.
Um diagnóstico mais ou menos conhecido, mas difícil de trabalhar, em termos, de alternativas à actual situação. Para a Direita, sem visão, está bem que a coisa vá nesse sentido; para a Esquerda, também sem visão, está bem que a coisa fique como está; e depois, há a outra Esquerda, a do Ulrich Beck (UB), que sugere novos caminhos, propondo rupturas e apresentando indicações do que se poderá fazer para obviar o inevitável.
No ensaio principal, UB, aprofunda, uma vez mais, a sua análise, sob o enfoque no mundo laboral, ao conceito de Sociedade de Risco, a sociedade actual, chocando a velha Europa com o novo Brasil, mas deixando espaço para que outros ensaistas joguem o mesmo jogo no seu campo, apelando a sua territorialidade específica, EUA, Ásia e África.
O giro é que o UB e os outros autores, fundamentalmente, utilizam o conceito de Sociedade Civil para responder a questões que são colocadas pelo mercado, ou seja, trazem um conceito político, muito pensado para a cidadania, para a arena do competitivo mercado laboral. Mixa. Muitas das soluções propostas sugerem que o futuro passa por uma profunda articulação entre o mercado (como o conhecemos hoje, não, não sonhem com outro mercado), Sociedade Civil (virada para a prestação de serviços, permitindo assim e também que a cidadania seja realizável com dignidade), empresas (sempre com contratos precários e sub-contratos a micro empresas saídas de associações de desempregados ou de trabalhadores precários ou de especialistas) e o Estado (levezinho, à Liedson, esforçado, mas eficaz e mais promotor e regulador do que interventor, mas não desresponsabilizado, um Estado que marque golos).
Gosto da proposta, sobretudo, durmo bem com a ideia da liberalização do conceito da Sociedade Civil.
Esse livro é obrigatório para todos aqueles que se preocupem com a temática, ou melhor, é obrigatório para toda gente que saiba ler.
Citações:

«A utopia neo-liberal é uma forma de analfabetismo democrático. O mercado, como tal, não é portador da sua própria justificação. Este sistema só é viável em alternância com a segurança material, os direitos assistenciais e a democracia: numa palavra, com o Estado democrático.»

«O presente necessita da antitese para esclarecer até onde pode chegar a sua pretensão de domínio, o mesmo é dizer, para esclarecer onde pode começar outra coisa.»

«O conceito de modernização reflexiva aponta a uma série de mudanças radicais fruto da aceleração e radicalização da modernização (...) Não há novas élites surgidas de baixo, nem novas utopias sociais, nem frentes claras de conflitos; ao contrário.»

«Modernização reflexiva significa passar da 1ª modernidade, encerrada nos limites do estado-nação, para uma 2ª modernidade (aberta e arriscada) de insegurança generalizada.»

«Empresas grandes e pequenas, empresários autónomos e multinacioanis..., se querem ser activos globalmente, têm que cumprir um requisito: desenvolver uma estratégia de localização. A globalização pressupõe localização, mas com uma conotação socio-espacial, no sentido de que o que antes tinha que estar ligado aum lugar concreto, pode expandir-se a nivel mundial e, não obstante, seguir sendo uma unidade cooperativa.»

«Enquanto as correntes de capital podem mover-se por todo o mundo, através de meios electronicos, atravessando fronteiras a velocidade da luz, a mobilidade dos trabalhadores está fortemente limitada pela sua vinculação a família, ao lugar, as instituições, ao direito, a cultura, a política, aos movimentos proteccionistas e também pelo ódio ao estrangeiro.»

«A vinculação territorial do trabalho põe a população trabalhadora em desvantagem na repartição dos riscos globais da globalização.»
In, Un nuevo mundo feliz, Ulrich Beck, Editorial Paidós
Abílio Neto

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