terça-feira, setembro 25, 2007

O Dalai Lama - E a minha amiga que cheirava a açafrão



O mais próximo que estive de Buda foi:
1 - Quando li «O Buda dos Suburbios» de Hanif Kureishi;

2 - Quando ouvi a colectânea Buddha Bar II (dinner mais party);

3 - Quando vi «O Pequeno Buda» de Bernardo Bertolucci;

4 - E, finalmente, enquanto tive uma amiga, que ainda hoje não sei se era budista, dizem-me que sim, que comia arroz integral, bebia chá, sentava-se no chão, andava descalça e cheirava a açafrão, que me lembre.

Isso tudo para dizer que a única coisa que consegui reter da recente visita do Dalai a Portugal foram as imagens das pessoas que andavam a volta do homem, resplandecente e estranhamente sorridentes - fiquei a saber que não posso ser budista -, e ficou-me também esta frase:

"Promover encontros, mesmo com Bin Laden, falar, ouvir quais as suas razões. Generalizar é injusto".

Bem, 1º, ocorreu-me que já tinha ouvido isto de algum lado e não de um budista; e, 2º, lembrei-me de uma das frases predilectas da minha amiga que-ainda-hoje-não-sei-se-era-budista: «Abílio, tens de te dar com toda a gente...»!

Como, na altura, não fazia qualquer comentário a essa frase, que ela repetia até a exaustão e que eu exausto ou soberbo fui ignorando, hoje, alegre e cobardemente, sem saber onde ela está, acho-me capaz de o fazer, portanto respondo: «não tenho que me dar com toda gente, porque há gente que de maneira alguma se daria bem comigo, por isso, não quero que toda gente se dê bem comigo!».

E uma das pessoas com quem jamais me daria bem é o Bin Laden. Não vejo possível. Com um copo de Batuta ou de Thermantia na mão, não sabia o que lhe dizer e ele tão pouco saberia o que me dizer, e dar-me com uma pessoa com quem sou incapaz de comunicar com um copo de bom vinho na mão, nunca me aconteceu e não quero que me venha a acontecer. É assim comigo e parecer ser assim com os budistas, suponho que aqui, em vez do vinho, ponho a coisa ao contrário, é difícil darmo-nos bem com alguém que nos bata com um bastão por clamarmos pacificamente por liberdade, quando não temos nada na mão. A não ser que...

Hoje e ontem, em Myanmar - o país com o nome mais lindo do mundo e também com a Presidente-que-nunca-chegou-a-ser-15-anos-depois-de-ganhar-eleições-livres-e-democráticas mais linda do mundo, Aung San Suu Kyi - , parece-me, deve parecer a todos, que os budistas perceberam, finalmente, mesmo depois da China no Tibete, que há gente com quem não se deve dar, há gente com quem não se encontra e, simplesmente, há gente que não tem razão.

De qualquer forma, passou-me ao lado a recusa do governo português em receber o Dalai Lama.


Abílio Neto

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