Ela subiu. Andar um pisco pesado, postura leve. Calças pretas e camisola de lã em V, às riscas, 3 cores, branco - cinza, cinzento – zinco e preto, talvez da Missoni, a camisola, digo, porque por baixo, trazia uma t-shirt base, simplesmente castanha - quase da cor da sua pele -, que bem podia ser da Zara.
Ela chegou ao palanque. Virou-se e levantou logo a cabeça para olhar de frente a sua plateia, lá no Congresso, e para olhar para mim, sentado no sofá da minha casa, «Deus, como é linda!», pensei logo, prestando vassalagem ao ecrã da TV 5. Negra no porte e na cor; olhar vivo, inteligente e descontraído; rasta limpa, presa atrás; e de testa aberta, definitivamente premonitória.
Ela discursou 12:55 minutos. Muita contudência, muita ideia e muita política, nada de desculpabilização ou de auto-justificação. Depois, terminou, arrumou os seus papéis e desceu do palanque, como subiu. Era o seu discurso de investidura para Nicolas Sarkozy.
Ela era Rama Yade, aliás, Ramatoulaye Yade-Zimet, negra, mulher, francesa do Senegal e muçulmana. É, hoje, a Secretária de Estado para a Francofonia e Assuntos Europeus do novo Governo francês, o II Fillon.
Ela ainda não me diz tudo, desconfio que me há-de dizer algo, quando souber melhor o que pensa.
Depois dela, entrou Nicolas Sarkozy.
Confesso. Apesar do bom gosto de Sergo - «elle met de la fantaisie dans l’uniforme», cito Vincent Gregoire (atrevido inventor de tendências) -, que me bang! totalmente, nos últimos dias, Nicolas Sarkozy começa a ser Sarko na minha cabeça. Puf, está escrito. «Kärcher, racaille», retumbam, tam tam tam!, aqui dentro de mim, desde 2005, até não sei quando. De momento, vou lhe reconhecendo o atrevimento.
Desde a semana passada que a França está mesmo a fazer barulho, estou parvo com tanta França! Não se julgue que estou parvo só pela Rama Yade, é também pela Fadela – Ni Putes Ni Soumises – Amara, a outra Secretária de Estado de Sarko.
P… que pariu os franceses!
Abílio Neto