terça-feira, junho 26, 2007

A figura - Rama Yade



14 de Janeiro de 2007. Congresso do UMP.

Ela subiu. Andar um pisco pesado, postura leve. Calças pretas e camisola de lã em V, às riscas, 3 cores, branco - cinza, cinzento – zinco e preto, talvez da Missoni, a camisola, digo, porque por baixo, trazia uma t-shirt base, simplesmente castanha - quase da cor da sua pele -, que bem podia ser da Zara.

Ela chegou ao palanque. Virou-se e levantou logo a cabeça para olhar de frente a sua plateia, lá no Congresso, e para olhar para mim, sentado no sofá da minha casa, «Deus, como é linda!», pensei logo, prestando vassalagem ao ecrã da TV 5. Negra no porte e na cor; olhar vivo, inteligente e descontraído; rasta limpa, presa atrás; e de testa aberta, definitivamente premonitória.

Ela discursou 12:55 minutos. Muita contudência, muita ideia e muita política, nada de desculpabilização ou de auto-justificação. Depois, terminou, arrumou os seus papéis e desceu do palanque, como subiu. Era o seu discurso de investidura para Nicolas Sarkozy.

Ela era Rama Yade, aliás, Ramatoulaye Yade-Zimet, negra, mulher, francesa do Senegal e muçulmana. É, hoje, a Secretária de Estado para a Francofonia e Assuntos Europeus do novo Governo francês, o II Fillon.

Ela ainda não me diz tudo, desconfio que me há-de dizer algo, quando souber melhor o que pensa.

Depois dela, entrou Nicolas Sarkozy.

Confesso. Apesar do bom gosto de Sergo - «elle met de la fantaisie dans l’uniforme», cito Vincent Gregoire (atrevido inventor de tendências) -, que me bang! totalmente, nos últimos dias, Nicolas Sarkozy começa a ser Sarko na minha cabeça. Puf, está escrito. «Kärcher, racaille», retumbam, tam tam tam!, aqui dentro de mim, desde 2005, até não sei quando. De momento, vou lhe reconhecendo o atrevimento.

Desde a semana passada que a França está mesmo a fazer barulho, estou parvo com tanta França! Não se julgue que estou parvo só pela Rama Yade, é também pela Fadela – Ni Putes Ni Soumises – Amara, a outra Secretária de Estado de Sarko.

P… que pariu os franceses!


Abílio Neto

sexta-feira, junho 22, 2007

O balanço - As minhas músicas alternativas








As minhas 5 Alternativas


- Herbert – Scale

Vida. Em 2005 desiludiu-me pela 1ª vez, eu sabia que dificilmente ia voltar a falhar, e não falhou. Se Scale ainda não é o prometido album soul de Matthew Herbert está perto de o ser, Something Isn’t Right é a canção que Maurice White não escreveu para os Earth Wind and Fire.

- Koop – Koop Islands

Sim. Koop já passa na Antena 1, principal emissora da rádio pública portuguesa! Há uns anos atrás, só achava isso «normal» se fosse num qualquer programa do Ricardo Saló, por natureza, um programa de música alternativa, mas agora, passada a estupidez da rebeldia exclusivista - acho bem e não tenho outro remédio -, tive a certeza disso quando os fui ver ao vivo ao Casino de Lisboa, a grande maioria do público não conhecia as músicas do 1º album, Waltz for Koop, ao contrário de mim, foram lá para ouvir Koop Islands. Desta vez, não encontrei lá o Johnny, o Dj.

- Nightmares on Wax – In a Space Outta Sound

Regresso. Os N O W não regressaram ao seu início, ao clubbing criterioso, ao jungle estilizado ou ao Quincy Jones, nada, engano, regressaram a África onde provavelmente nunca tinham estado, para manterem-se perfeitamente actuais.

- The Afterlife – Lounge

Ressureição. O melhor album chill-out da década, sem exageros. Bonobo? Em condições normais, se a crítica não tivesse feito o funeral da música ambiental desde o 1º album dos 808 State, Lounge apareceria em todas as listas dos melhores do ano, não apareceu. Por Deus!, está aqui tudo, até está a Cathy Battistessa - cria aqui um clássico instantâneo, Let It Go - a cantora do hino Café Del Mar More Than Every People, dos Leviathan, a cantora ibizian por excelência, a sua frente só está a diva Sally Rodgers, dos A Man Called Adam.

Enquanto o Fisco não me devolver o que me deve. Sigo com 2006.

Abílio Neto

quarta-feira, junho 20, 2007

O dia - Os Refugiados




Faz trinta anos, Fevereiro de 1977, que uma ditadura estúpida - redundante totalidade -, entendeu - discordante concepção-, que devia destruir a minha família, como sempre acontece com as ditaduras, que quase conseguem tudo, quase conseguiram.

O quase, neste caso, não aconteceu porque muitos nos ajudaram a impedir que o ditador levasse o mal que lhe corre no sangue ao limite de uma hemorragia fatal. Suponho que vontade não lhe terá faltado, pois, chegou a haver hemorragia com o Sr. Lereno Mata.

Antes e durante a prisão dos meus pais, entre a pressão da Amnistia Internacional e a pressão de muitos democratas no estrangeiro, e depois, quando sairam da prisão, entre a ajuda da UNCHR / ACNUR e a ajuda de familiares e amigos, devo, e deve a minha família, o evitar da «quase» destruição.

Há coisas que não se pode esquecer. Belo, triste e luminoso, este Dia dos Refugiados. Obrigado.

Abílio Neto

quarta-feira, junho 06, 2007

A Ota - A Descolonização e Portugal



Sendo inevitável, porque vivo em Portugal, venho acompanhando, com alguma reserva higiénica, o debate sobre a construção do novo aeroporto de Lisboa.

E do insuportável barulho a volta, a única coisa que não me sai da cabeça, zumbe-me mesmo aqui dentro, é ter chegado a conclusão que os portugueses são os melhores «hesitadores» - pessoas inspiradas que fazem de hesitar uma qualidade indispensável para a boa decisão - e que, por isso, este país está cheio de «exitadores» - tipos que passam a sua vida a aplaudir ou a apupar os «hesitadores», normalmente, são opinion makers, putativos ou de facto, ou especialistas de qualquer coisa. Portugal consegue ser o único sítio do mundo em que o êxito de muita gente está associado ao aplauso e / ou ao apupo, alguma dessa muita gente, consegue aplaudir e apupar x 2, ou seja, em simultâneo, é o êxito do olha-que-eu-bem-avisei, sem que se perceba qual foi o aviso ou o seu sentido.

A volta de um projecto de construção de um aeroporto cria-se tanto fuzz estúpido, que sou obrigado a imaginar como teria sido a discussão sobre a Descolonização, com os quase - mesmos «hesitadores» e «exitadores», sim, porque em Portugal é quase sempre o mesmo pessoal a fazer, a não fazer ou a desfazer tudo.

Assim, vendo o que se está a passar com o novo aeroporto de Lisboa, se explica o hesitante êxito da Descolonização.

Até há pouco tempo, ainda tinha dúvidas, sobre a forma como teria sido feita a discussão sobre a Descolonização em Portugal, agora, deixei de as ter.

Abílio Neto