quarta-feira, março 28, 2007

O tempo - O casal Lindiwe Radebe e Bathini Dambuza




Soube, lendo o Público de há poucos dias atrás. Parece que a notícia foi em Novembro de 2006.

No dia 15.11.2006, o Parlamento Sul-Africano aprovou o diploma Civil Union Bill 230-41 com apenas 3 abstenções, de 400 deputados. Não se tratou de qualquer Lei, nem de qualquer votação.

Legislou-se sobre uma matéria – possibilidade de casamento entre pessoas do mesmo sexo -, que está perto, muito perto mesmo, de colocar a Africa de Sul pós-apartheid ao nível dos países verdadeiramente livres, não fora a teimosia mística, vulgo bias, do Thabo Nbeki no reconhecimento cientifico da SIDA e não fora a teimosia mítica, do mesmo Presidente, em pressionar a destituição do Robert Mugabe, que, cada vez mais, tem uma insuportável pinta gay recalcado e sem piada nenhuma.

De resto, tinha que afirmar a minha concordância - que não militância, admito que até podia ser, caso circunstancialmente tivesse que defender as liberdades -, porque só acredito em Democracias, quando são capazes de garantir e cultivar as liberdades individuais acompanhadas da componente equitativa, como é o caso.

Todo um exemplo a seguir. Aliás, muito bem fundamentado no preâmbulo da Bill, que defende não fazer sentido lutar contra o apartheid e deixar em pendência outro apartheid, ou seja, os sulafricanos mostram a maior das sensibilidades para a defesa do que é correcto, tristemente, no resto do continente muitos ainda continuam a confundir a libertação com as liberdades.
E gostava que alguém me dissesse que elas, a Lindiwe e a Bathini, as da foto, que não são lindas. Dizem que se vão casar.


Abílio Neto

sexta-feira, março 23, 2007

O balanço - A minha Soul de 2006







Atrasado.

Começa aqui o meu balanço.

2006. Ano de grandes canções.

As minhas 4 Soul, num ano de imensa alma.

- John Legend – Once Again

Obrigatório. Sensível, elegante e referencial, toda a Soul num único album, do principio ao fim, só grandes canções! Era previsível que na comunidade negra norte-americana corresse o rumor que JL é gay, pois, pudera, o rapaz não tem nada a ver com o P Daddy e o R&B 7 - Up, está inspirado (Quincy Jones já o vê no Olimpo com Marvin, Steve e Donny), está unicamente interessado em escrever boas canções (na capa do seu cd aparece ao piano), é articulado e bem formado (na literatura do cd, agradece em português «to meu amor obrigado estou praticando o meu portugues»), veste-se bem, é contido e nos seus videos aparecem miudas giras, vestidas e normais. Não é Nu-Soul é Nu Quiet and Storm, oiça-se Each Days Gets Better!

- Dwele – Some Kinda...

Indispensável. Não há hits como no anterior, Subject, há música, há liberdade e há mais Jazz, há o mesmo cool,não peço mais, porque não é preciso.

- Amy Winehouse – Back to Black

Surpreendente. E ainda dizem que os albuns de remisturas não servem para nada, eu conheci a A W através de um, Got the Bug, dos The Bugz in the Attic. Está na moda chamar nomes a miúda, chamem-lhe bêbeda, anoréxica, o que quiserem, é a maior, é a mais excitante. Aos 23 anos, A W escreve e canta canções pessoalíssimas como se já tivesse vivido 46 anos, o dobro da sua idade. Frank, o 1º album, só não é o melhor album Soul britânico de sempre, porque antes, de facto, existiram o Vol. I dos Soul To Soul e os albuns dos Loose Ends e do Omar.

- Kelis – Kelis Was Here

Linda. O regresso da The Most Stylish Girl in Soul Music and Others, sem os Neptunes, mas com óptima música, o habitual bom gosto e um novo penteado, ao lado dela Beyonce é uma miúda da Cova da Moura e Corine Rae uma filha de retornado. Ok, musicalmente, não tem nada a ver com Tasty.


Abílio Neto

terça-feira, março 20, 2007

O vinho - Montrose Grand Cru Classé 1989



Château Montrose Grand Cru Classé 2 eme. Um Bordéus. Um Médoc. Um Saint Estéphe de 1989. Provavelmente, dos melhores vinhos tintos que alguma vez bebi.

Quando se fala de alguns vinhos, convem utilizar a linguagem do futebol - há futebol da distrital e há futebol da Champions -, e o Montrose, se se quiser comparar bem, é um vinho «Gálatico», é um Zidane dos vinhos, até com as suas cabeçadas.

Durante uma tarde de Janeiro, deste ano, na York House, exclusivamente dedicada ao gourmetismo - uma prova de comida organizada pela Paulina Mata (uma autoridade em cozinha molecular e uma apoixanada pela gastromia) e pelo chef Luís Baena (dono da cozinha daquele que, para muitos insuspeitos, é o melhor restaurante de Portugal, o Quinta de Catralvos) e uma de azeites organizada pelo casal Margarida e Paulo Rodrigues (grandes apreciadores e divulgadores dos prazeres gourmand) -, que terminou num descontraído jantar em grupo, foi nesse momento, tive o privilégio de, pela 1ª vez, ter bebido um Montrose.

Estou a falar de um exemplar de 1989.

Em condições normais, tratar-se-ia de um vinho a caminho do declínio, pelos anos em garrafa. Mas nada disso. Após 2 horas de aereação em decantador, foi servido.

Mal me serviram, levantei o copo, olhei e encontrei-o vivo, vermelho, com algum rebordo atijolado, por certo, mas límpido. Agitei, e vi as lagrimas cairem lentas e vigorosas. Continuei a olhar. Tinha que observar, quase espiar, antes de o levar ao nariz. Respirei, olhando para os restantes convivas, todos especialistas, uns da Revista de Vinhos, outros críticos renomados, outros produtores de vinhos, outros donos de garrafeiras selectas, outros ainda grandes gourmets, o menos de todos, eu.

Até que a pergunta surgiu da boca do Paulo Rodrigues, a quem tenho que agradecer a oferta do momento, foi ele quem levou a garrafa: «alguém consegue chegar lá?».

Disse baixinho e atrevidamente à Angela, não o podia fazer de outra forma: «é um Bordéus, um Médoc...». E só provei um Médoc uma única vez, um 1997!

Respirei outra vez. E levei o copo ao nariz. Juro que se não soubesse, diria que o vinho estava podre, tal era a profusão de aromas terciários, os que crescem com o envelhecimento, o cheiro a couro, a estrebaria. Respirei fundo, agitei outra vez e voltei a cheirar, e começou a aparecer, por detrás do murro dos «maus» aromas, a fruta, a frescura dos frutos silvestres e a complexidade das especiarias.

Finalmente, bebi. Um pequeno gole e a quase perfeição entrou e veio-me a cabeça, a elegância, o equilíbrio e a impossibilidade de ter o alcóol bem integrado, bem dentro da fruta, como um todo, um Tom & Jerry em estado líquido.

Voltei a agitar.

«É o Montrose...», disse o Paulo. Não foi preciso mais. Muitos de nós ficamos lá perto. E fomos confessando sobre as nossas especulações.

3 horas depois, perto do final do jantar, ainda tinha um pouco do vinho, voltei a fazer tudo o que fiz no início, e teimosamente, mantinha-se elegante, equilibrado e impossivelmente delicioso, como se o tivessem acabado de servir.

Abílio Neto




sexta-feira, março 16, 2007

O filho - Paulo Portas



Algumas, poucas, semanas depois de ter entrevistado José Ribeiro e Castro a Maria Flôr Pedroso entrevistou Paulo Portas, o ex e futuro ex - líder do CDS-PP, e eu ouvi a entrevista, com igual atenção e em diferente circunstancia, desta vez, não estava a escolher vinhos para provar, nem estava a preparar o menu para o fim de semana, estava a arrumar a cozinha, depois de um jantar lá em casa, com a Rosa, a Cláudia e o Pedro no dia anterior.

(Um jantar que teve como momento sublime o casamento perfeito entre um magnífico riesling alemão da casa Josef Biffar, o Deidesheiner Kieselber, Kabinett Trocken, 2005 e a pasta do «mar tropical», desta vez sem manga, da minha querida esposa.)

Adiante.

Nesta entrevista, a Flôr não insistiu nos paradoxos da direita mediterrânica - porque estava em presença de Paulo Portas, um crooner do pensamento ideológico, mais Tom Jones que Tony Bennett, por isso, camaleónico, sabe ao que vai, vai e sabe-a toda -, persistiu no desmontar da estratégia usada por Portas para voltar ao poder. Pouco interessante, portanto, porque já se sabia que era inevitável que o regresso acontecesse e óbvia a forma como iria acontecer.

E tudo é tão esperado, que eu sabia que, desta vez, Paulo Portas regressaria liberal, e soube-o no momento em que apareceu com as patilhas à agricultor ribatejano, quem se penteia daquela forma obrigatoriamente está querer dizer: «não sou o que pensam que pareço!». Pense-se nos travestis.

O interessante mesmo foi o final, quando a Flôr pede aos entrevistados que indiquem uma canção para terminar o programa. E o Paulo Portas que consegue ser mais cínico do que eu, escolheu, veja-se, Rehab, da Amy Winehouse!

They tried to make me go to rehab but i said 'no, no, no' Yes I've been black but when i come back you'll know know know I ain't got the time and if my daddy thinks I'm fine He's tried to make me go to rehab but i won't go go go

A todos os níveis, conclusivo.

Abílio Neto

quinta-feira, março 08, 2007

A figura - Jean Baudrillard ( 1929 - 2007 )



( 1929 - 2007 )

Provavelmente, o pensador que mais me influenciou. E tudo começou com o «America», em 1989. Desde aí, sei, e não tenho vergonha em o afirmar, que sou efectivamente um pós-modernista. Desde aí, nunca mais parei de ler Jean Baudrillard.

Apetece-me ficar em silêncio.

Cito a obra acima:

As coisas nunca duram mais tempo do que o tempo em que acontecem.

A América é a versão original da modernidade, nós (europeus) somos a versão dobrada ou legendada.

O que se pensou na Europa realiza-se na América.

Eles fabricam o real a partir das ideias, nós transformamos o real em ideias ou ideologia.

A salvação já não depende do divino ou do estado, mas da organização prática ideal.

Ainda houve quem questionasse as suas propostas e quem se risse das suas análise, suponho que nenhum deles tenha sobrevivido para ver a América de Bill Clinton, ou não sobreviveram, ou viveram e não quiseram ver. E os que não quiseram ver, entragaram a América ao Bush.

Não sei se vou conseguir ficar-me por aqui e em silêncio, mas desde já, agradeço ao Professor toda a ironia e cinismo que transmitiu, com imenso gozo.

Abílio Neto

terça-feira, março 06, 2007

A data - Gana, a 1ª Independência









Com uma foto do fotografo ganés Francis Nii Obodai (a de cima), que diz tudo, e outra de Kwame Nkrumah, que também diz tudo, junto-me a festa dos 50º aniversário da Independência de Gana, o 1º país africano a conseguir o feito.
Ainda pensei em pôr aqui uma foto do designer Ozwald Boateng ou da selecção de futebol do Gana ou do futebolista Tony Yeboah - para mim, simplesmente, o melhor jugador africano de sempre, a par do George Weah, Rabah Majer, Mohamed Timoumi e Kalusha Bwalya -, mas não, a arte e a política ficam melhor, são menos frívolas.

Abílio Neto