quinta-feira, setembro 28, 2006

A vida - O must feminino do verão passado






Agora que já estamos no Outono e tudo está melhor, menos sol, luz mais intensa, dias mais curtos, mas noites mais longas e vem aí o frio, para cobrir-nos e bem de roupas, devia ser obrigatório ter saudades da camisolas de gola alta, com atraso, resolvo recordar-me do que deveria ter sido o melhor do verão que já passou, mas não foi.

Do Verão, por norma, deliro com os vestidos. Deliro com mulheres que usam vestidos. E nesse particular, em Portugal, Nuno Baltazar com a sua colecção Primavera / Verão de 2006, não deu hipoteses, ganhou de cabazada.

Nuno Baltazar inspirou-se nos vestidos de cocktail dos anos 70 para conceber essa colecção, que para mim a sua melhor. Fez assim uma viagem ao universo feminino das últimas três décadas do colonialismo português em África. O resultado foi um puro deleite de memória visual.
O mais espantoso é que me fez lembrar algumas fotos da minha mãe e das minhas tias sentadas nos bancos dos jardins de São Tomé, a cidade, quando havia jardins, com os seus simples, mas magníficos vestidos de chita.
O mais chato é que vi poucas mulheres com vestidos nas ruas de Lisboa. Significativo, não.
Abílio Neto

terça-feira, setembro 19, 2006

O teatro - Os Negros, de Jean Genet





Os Negros, de Jean Genet, encenado por Rogério de Carvalho, abre a temporada no Teatro Nacional São João no Porto. Era o suficiente. Não tinha que escrever mais nada.

Mas Os Negros, de Jean Genet que abre a temporada no Porto tem um elenco exclusivamente negro e africano e tem o Ângelo Torres.

Sobre a peça, lembro de a ter lido há imenso tempo, não me recordo de muito, recordo-me da violência das palavras e do extremo dos ambientes, mais não posso dizer.

Contudo, mais recentemente, em 2004, lembro-me perfeitamente de ter lido referências a obra e a Jean Genet no Cultura y Imperialismo, do Edward Said.

Muito no seu estilo culturalista, Said que tinha uma enorme admiração pela obra de Genet, às tantas, na obra acima mencionada escreve isto:

« Uma vez que se aceita a autêntica existência de uma configuração de experiências literárias interdependentes e sobrepostas umas com as outras, apesar de fronteiras e autonomias nacionais ligadas pela força, a história e a geografia ficam transfiguradas em novos mapas; em novas entidades muito menos estáveis: em novos tipos de conexão. O exílio, longe de constituir o destino de despojados, expatriados e quase esquecidos, se converte em algo mais próximo a um hábito, uma experiência, na qual, por muito que se reconheça e se sofra a perdida, se atravessam barreiras e se exploram novos territórios, superando assim as fronteiras canónicas clássicas. Os novos modelos e tipos recém modificados empurram os antigos e tratam de tirá-los do seu lugar e ocupa-los eles. O leitor e o criador de literatura – que perde as suas formas até então fixas e absorve as observações, revisões e anotações da experiência pós-colonial, incluindo a vida clandestina, os relatos dos escravos, a literatura das mulheres e os testemunhos das prisões -, já não necessitam de seguir atados a imagem do poeta ou do erudito como personagens isolados, seguros, estáveis e em posse de um carácter nacional em virtude da identidade, classe, género, ou profissão. Agora podem pensar e experimentar, com Jean Genet na Palestina, com Tayeb Salih como negro em Londres, com Jamaica Kincaid no mundo branco, com Rushdie na Índia e Grã-bretanha, etc.

Devem expandir-se os horizontes contra os quais se baseiam e respondem as interrogações sobre como e que ler e escrever. »

Todavia, o interesse do Edward Said por Jean Genet e a sua obra, existiu em profundidade e foi mais longe nos seguintes livros:

Jean Genet et la Palestine
Por Félix Guattari, Alain Milianti, Edward Said, Juan Goytisolo

On Late Style: Music and Literature Against the Grain
Por Edward Said


Sobre este ultimo, terá havido mesmo acesa polémica, em círculos intelectuais americanos e israelitas, relativamente ao facto de Said declarar-se admirador de um autor, Genet, confesso simpatizante do lado mais sombrio da causa palestina, o terrorismo.

O mais provável será não ver a peça, tendo em consideração não estar prevista a sua saída do Teatro Nacional de São João. Lamentável.

De qualquer modo, uma abraço ao Ângelo, que tudo corra pelo melhor.


sexta-feira, setembro 01, 2006

O jornal - O Independente





Assumo. Marcou-me. Juntamente com a The Face, que também já morreu, o Independente, em finais dos 80 e início dos 90, influenciou-me e influenciou a forma como resolvi ver o mundo, mais pelo Miguel Esteves Cardoso, com o seu sarcasmo elegante e com o seu profundo conhecimento da cultura pop, do que pelo resto, que não me atraia tanto.

Desde a publicidade, irreverente, passando pelos suplementos, indy, e terminado nos colunistas, independentes.
Até a criação do Bairro Alto, porque foi o Independente a criar o BA que eu frequentava. O Targus, do Hernâni Miguel, o melhor bar de Lisboa, de sempre, não existiria sem o Independente, curiosamente, a suave morte,a agonia, dos dois foi sendo em simultâneo.

O Independente morreu mal, nasceu bem, como tudo o que é bom na vida.


Abílio Neto